Cozinhar milhares de pessoas em vinho a temperaturas superiores a 40 graus só poderia mesmo acabar em protestos e confusões. Quem foi à 11ª Expovinis sentiu na pele os efeitos do aquecimento global, provocado, no caso, não por desmates ou gases poluentes, mas pela ausência de climatização e arejamento no pavilhão da Bienal, a sede do evento. O lugar virou uma fornalha, comprometendo o que se anunciava como a principal feira latino-americana da vinicultura. Nos estandes, visitantes encharcados de suor pediam água gelada em vez de vinho. O que compensou foi a presença de mais de duas centenas de produtores representando as principais regiões vitivinícolas do planeta. Muitos trouxeram ótimas novidades. E uma comissão de especialistas elegeu os dez melhores rótulos da feira, coroando, entre os tintos europeus, o Vosne Romanée 2003 de Bouchard Pere & Fils.
O pavilhão da Bienal, no Ibirapuera, definitivamente não dá para eventos assim. Projeto do arquiteto Oscar Niemayer, construído há cerca de 50 anos, o prédio implora por reformas. O estacionamento é diminuto, faltam banheiros e elevadores, não há conservação. O problema maior, contudo, foi a ausência de uma central de climatização. Cada estande instalou seus próprios aparelhos, que lançavam o ar aquecido aos corredores e logo o recebiam de volta pelas portas de acesso. O calor excessivo criou um ambiente impróprio: vinhos costumam ser cruéis quando fora da temperatura adequada. A frustração foi maior entre os produtores que vieram de países distantes.
Nos últimos anos, a Expovinis vinha ocupando as instalações do ITM Expo. Os organizadores justificaram a mudança por ser o Ibirapuera “mais central e espaçoso”. Reconheceram, porém, o erro. “Não conseguimos vencer as dificuldades técnicas criadas por um pavilhão tão antigo e inserido em área pública sobre o qual não tínhamos controle”. Muitos expositores não se convenceram, argumentando que, na verdade, o espaço foi escolhido em razão do menor preço do aluguel. A próxima feira terá, certamente, de redobrar os cuidados com o planejamento. Apesar de tudo, o número de visitantes superou o do ano passado. Foram 21 mil, entre profissionais da área e consumidores.
O crescimento da vinicultura nacional se evidenciou nesta Expovinis. Além de regiões mais conhecidas, como a Serra Gaúcha e o Vale do São Francisco, tomaram corpo a campanha riograndense e a área serrana de Santa Catarina. Os produtores catarinenses apostam nos chamados vinhos de altitude. Uma das bodegas, a Vila Francioni, teve seu Chardonnay da safra 2006 listado entre os dez melhores. A campanha mostra-se promissora em tintos consistentes e equilibrados, como os levados pela casa Cordilheira de Santana. As grandes vinícolas estão investindo firme por lá. A Miolo, por exemplo, já plantou 120 hectares de parreiras na Fortaleza do Seival e concluiu instalações que vinificarão até quatro milhões de litros.
Portugal veio forte. Caves Messias, Herdade do Esporão, José Maria Fonseca, Quinta da Aveleda e Quinta da Bacalhoa estavam na linha de frente. O alentejano Herdade dos Grous 2004 classificou-se entre os dez melhores. E não faltaram os vinhos fortificados da Ilha da Madeira, estilo que vem empolgando o mercado. O Justino Colheita 1995 é, sem dúvida, um campeão. Duas novidades: da África do Sul, a Raka, cujos vinhedos se localizam na mais fria região do Cabo, originando os tintos Figurehead 2004 e o Quinary 2003, à base de castas francesas; do Uruguai, a Bouza, pequena vinícola que produz o excelente Monte Vide Eu, mescla das castas Tannat, Merlot e Tempranillo. Acostumado às mega-vinícolas chilenas, o público se surpreendeu com a Gillmore. Produz pouco, apenas 25 mil garrafas. Seu Gillmore Cabernet Franc Reserva 2003 é elegante, refinado, com aromas de cassis e longo final. Também a vinicultura francesa mostrou um lado pouco conhecido, os Malbecs da região de Cahors, da Vins de France, vinhos acessíveis no preço. O rótulo básico da linha custa R$ 35. A sede do importador, Christian Mathieu, fica em Curitiba.
Foram eleitos como melhores da feira – além dos já citados – o rosado Château Pourcieux 2006, da Provence; o Château Doisy Daëne 2002, vinho de sobremesa de Sauternes; o William Cole Sauvignon Blanc 2006, de Casablanca, no Chile; o espumante Vértice Super Reserva Bruto 2000, de Portugal; o Salton Desejo Merlot 2004, de Bento Gonçalves; o Château Haut Bacalan 2003, de Bordeaux; e o The Octavius Shiraz 2001, da Austrália.
(Por Luiz Carlos Zanoni - lczanoni@sulbbs.com.br)
terça-feira, 15 de maio de 2007
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