segunda-feira, 27 de junho de 2011

À Mesa com o Valor

A Cantina do Magrão foi cenário da série de entrevistas 'À Mesa com o Valor', publicada no caderno Eu & Fim de Semana, do jornal Valor Econômico, na última sexta-feira, 24.
Como o acesso ao jornal é restrito aos assinantes, segue abaixo a entrevista completa.

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Um regente para todos

À mesa com o valor - Isaac Karabtchevsky: Maestro faz de Nova York e de Heliópolis o mesmo cenário em que o interesse pela música aproxima plateias de diferentes classes sociais.

João Luiz Rosa | De São Paulo - Foto: Regis Filho/Valor
24/06/2011

É outono, mas tudo lembra uma manhã típica de inverno em São Paulo, com céu cinzento, temperatura baixa e uma ameaça de chuva que faz as pessoas se apressarem na rua, embora o aguaceiro nunca chegue a cair de fato. A vizinhança reforça esse tom de melancolia: grudadas umas às outras, casinhas de alvenaria mostram uma disposição semelhante, com pontos comerciais no térreo - oficinas mecânicas, salões de beleza, mercadinhos - e residências no segundo andar. Parece razoável, mas o emaranhado de fios nos postes denuncia que em Heliópolis a luta por espaço é mais dura do que o cenário faz supor: muitas vezes, um único quintal tem de ser compartilhado por várias famílias.

Tudo isso fica para trás, porém, quando se entra na sala ampla, com isolamento acústico, onde dezenas de jovens acompanham atentamente os movimentos de um homem enérgico, mas que não perde a calma em nenhum momento do ensaio. "Eu preciso de mais emoção", diz o maestro Isaac Karabtchevsky aos integrantes da Sinfônica Heliópolis, em certo momento, ao pedir mais empenho dos músicos em uma passagem complexa do "Sonho de Uma Noite de Verão", a versão musical de Mendelssohn para a peça de Shakespeare.

Heliópolis é a maior favela de São Paulo em número de habitantes - são cerca de 135 mil moradores em um milhão de metros quadrados -, e apresenta problemas típicos, como desemprego e violência, apesar dos esforços de urbanização. Mas nas instalações do Instituto Baccarelli, do qual a orquestra é parte, os jovens instrumentistas estão concentrados em acertar o andamento, fazer o "pianíssimo", manter a respiração... A cada observação do maestro, fazem anotações em suas partituras. A música avança e, quando você percebe, já se esqueceu completamente do cenário difícil presenciado na rua.

Mais tarde, no disputado salão da Cantina do Magrão, para onde nos dirigimos, o maestro fala sobre a aparente contradição entre o que se convencionou chamar de música erudita e seu acesso pelo grande público, especialmente a população mais pobre, seja no palco ou na plateia. "Desde cedo me acostumei à ideia de que a música não está ligada a um preceito social, mas à vontade e à determinação das pessoas", afirma, enquanto nos preparamos para pedir o almoço.
"Todo maestro tem de reconhecer: há o momento de iniciar [um trabalho], o de extravasar o potencial e o de sair. É a velha relação entre indivíduo e grupo"

Desde o início de sua carreira, o maestro transita com facilidade entre salas de concerto exclusivas e espaços dirigidos a multidões. Ele já se apresentou no Royal Festival Hall, de Londres; na Salle Pleyel, em Paris; e no Carnegie Hall, em Nova York, entre muitas outras salas acostumadas a grandes estrelas no palco e ingressos caros na bilheteria. Ao mesmo tempo, é dele a concepção do Projeto Aquarius, criado há 35 anos para levar música de concerto a lugares públicos - e de graça. A lista de mais 300 apresentações ao ar livre inclui o balé Bolshoi na Quinta da Boa Vista e a Nona Sinfonia de Beethoven no Forte de Copacabana, ambos no Rio.

A mais recente missão de Karabtchevsky aprofunda essa experiência. Com um currículo que inclui a direção da Orchestre National des Pays de la Loires, na França; a Orquestra Tonkünstler, na Áustria; e o Teatro La Fenice, na Itália, ele assumiu este ano a direção artística do Instituto Baccarelli, o que inclui a regência da Sinfônica Heliópolis.

Não é de hoje que o maestro, aos 76 anos de idade e perto de completar 50 de carreira, busca um projeto dirigido a um grupo jovem, uma experiência ligada à ideia de proporcionar um legado musical. É por isso que não teve de pensar muito quando recebeu o convite do Instituto Baccarelli. Em atividade desde 1996, o instituto começou com 36 crianças de uma escola municipal próxima à sede atual. "Hoje, atendemos a 1,1 mil jovens e crianças, e mantemos 16 corais e 4 orquestras", conta Edmilson Venturelli, diretor de relações institucionais do Baccarelli, que também participa do almoço.

O maestro chama a atenção para a decisão do instituto de instalar-se em Heliópolis, em vez de levar as crianças para ensaiar em outro local. "[O projeto] está incrustado na comunidade, não é separatista", elogia. A expectativa é de que outras manifestações culturais possam ser estimuladas, como corais, conjuntos de câmara e grupos de balé. O empurrão inicial, porém, vem da sinfônica. "A orquestra dá o tom em todos os sentidos", brinca.
"Desde cedo me acostumei à ideia de que a música não está ligada a um preceito social, mas à vontade e à determinação das pessoas"

Somos interrompidos pela chegada dos pratos. O pedido foi o mesmo para todos: ravióli verde recheado de vitelo. Especialidade da casa, a massa é feita por Mônica, mulher de Magrão e pela sogra Maria Aparecida. A massa vem acompanhada de molho a galileu, com mussarela de búfala, tomate picado, azeitonas chilenas e manjericão. A cantina surgiu em 2001. Um ano antes, a família havia criado no lugar uma rotisseria, anexa ao Bar do Magrão, aberto em 1995. Aos poucos, os clientes começaram a pedir que os pratos da rotisseria fossem servidos na hora. Nascia o restaurante, que se tornou um ponto conhecido no Ipiranga, o bairro mais importante do Brasil, nas palavras de Magrão. "É verdade! Algum outro é mencionado no Hino Nacional?", diz ele, às gargalhadas.


Karabtchevsky dá mostras de conhecer bem os bairros da cidade. Filho de pais russos, ele nasceu em São Paulo. O sobrenome difícil de pronunciar não é a única herança de família. A inspiração musical veio da mãe, que era cantora lírica em Kiev, na Ucrânia. "Lembro dela ensaiando em casa, prestando muita atenção à respiração", conta o maestro. "Respiração é fundamental para a música. Você respira junto com a orquestra. Aprendi isso com minha mãe."

Se não fosse a família musical, o caminho para se tornar maestro poderia ter sido mais longo, mas seria inevitável, diz Karabtchevsky, enquanto aprecia sua taça de vinho. Ele começou seus estudos na Escola Livre de Música, que não existe mais, e à época ficava atrás do Cemitério da Consolação, um dos mais famosos da cidade. Morador do bairro da Vila Mariana, ia para a escola de bonde. Mais tarde, uma bolsa de estudos o levou à Europa, o que determinaria, em grande parte, os rumos de sua vida. Em toda sua carreira, nunca deixou de manter atividades em paralelo no Brasil e nos países europeus, que aprendeu a conhecer bem e onde ganhou respeito internacional.

É um ofício espinhoso, reconhece Karabtchevsky. Primeiro, por causa da própria natureza da música. "De todas as artes", a música é a mais imponderável". Na ópera, a insegurança de um único cantor é capaz de percorrer todo o teatro e colocar o espetáculo em risco, afirma. E até a sensibilidade do público diante da obra apresentada tem impacto no resultado final de um concerto.

Depois, existe a delicada convivência com os músicos da orquestra. "Todo maestro tem de reconhecer: há o momento de iniciar [um trabalho], o de extravasar o potencial e o de sair", afirma. "É a velha relação entre indivíduo e grupo, um dado psicológico que discuto com meu psicanalista até hoje. Freud, por exemplo, analisou a relação entre o político e a massa."

O maestro comandou durante 27 anos, no Rio, a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), que agora vive um impasse com o regente Roberto Minczuk. Karabtchevsky defende os instrumentistas. "A reação dos músicos é absolutamente legítima." O estopim da crise foi a determinação de realizar um exame com todos os músicos do grupo, independentemente da posição que ocupam e da experiência adquirida. "Isso ofende a comunidade", afirma.

Manter as orquestras funcionando - e sob mecanismos que garantam sua qualidade - é um desafio em todo o mundo. Nos Estados Unidos e no Canadá, prevalece o modelo das orquestras respaldadas pelos cidadãos e pelas empresas, que contam com incentivos como o abatimento integral do imposto de renda, afirma o maestro. No Brasil, 80% das orquestras obedecem ao modelo europeu estatal, diz. "A Orquestra Sinfônica de São Paulo (Osesp) foi a primeira no país a romper esse ciclo em grande escala." A saída foi transformar-se em uma fundação.

Consolidar uma orquestra, como ocorreu com a Osesp, também passa necessariamente por um impulso político, diz o maestro. "Em São Paulo, nos últimos doze anos, houve continuidade no governo de um partido, no caso o PSDB, o que deu tranquilidade aos projetos culturais do Estado."

Com a Osesp, Karabtchevsky iniciou a gravação do ciclo das 11 sinfonias de Villa-Lobos e vai conduzir, em janeiro, uma turnê ao Festival de Cartagena, na Colômbia, onde a Sinfônica de São Paulo será a orquestra residente durante três semanas.

Paralelamente, ele conduz outras atividades, com destaque para a Sinfônica Heliópolis. O "Sonho de Uma Noite de Verão" foi apresentado no Teatro Bradesco, em maio, e o maestro prepara-se para conduzir a orquestra na Sala São Paulo, no dia 25, com um programa composto por aberturas de óperas.

Consolidar uma orquestra, como ocorreu com a Osesp, também passa necessariamente por um impulso político, diz o maestro. "Em São Paulo, nos últimos doze anos, houve continuidade no governo de um partido, no caso o PSDB, o que deu tranquilidade aos projetos culturais do Estado."

Com a Osesp, Karabtchevsky iniciou a gravação do ciclo das 11 sinfonias de Villa-Lobos e vai conduzir, em janeiro, uma turnê ao Festival de Cartagena, na Colômbia, onde a Sinfônica de São Paulo será a orquestra residente durante três semanas.

Paralelamente, ele conduz outras atividades, com destaque para a Sinfônica Heliópolis. O "Sonho de Uma Noite de Verão" foi apresentado no Teatro Bradesco, em maio, e o maestro prepara-se para conduzir a orquestra na Sala São Paulo, no dia 25, com um programa composto por aberturas de óperas.

É um feito, mas o projeto acalentado vai além de levar os jovens músicos a palcos consagrados. O plano é buscar recursos para construir em Heliópolis um teatro para a sinfônica, colocando na plateia um público que não tem dinheiro para assistir aos concertos tradicionais. "A distância entre a grande música e o grande público é ditada pelo preconceito", afirma Karabitchevsky. "O desejo de todo compositor é que sua música seja compartilhada pelo maior número de pessoas possível." Eis uma frase que resume bem o que pensa um dos mais populares músicos eruditos do Brasil.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Utilidade pública

Você organiza aquela festinha, churras, chama os amigos pra assistir aos jogos do seu time... e a galera vai chegando com latas e mais latas de cerveja quente. Como gelar?

O professor Cláudio Furukawa, do Instituto de Física da USP vai responder essa questão.

Coloque o gelo e as latas num isopor


Para cada saco de gelo, coloque 2 litros de água
Para cada 2 sacos de gelo adicione 0,5 kg de sal refinado

e 0,5 litro de álcool (92 GL)

A água aumenta a superfície de contato, o sal reduz a temperatura de fusão do gelo (ele demora mais para derreter) e por uma reação química o álcool retira calor das latas de cerveja.
Os físicos denominam o composto de: mistura frigorífica - GELO, ÁLCOOL, SAL E ÁGUA

A mistura frigorífica é barata e a cerveja fica em ponto de bala após 3 minutos.