segunda-feira, 21 de maio de 2007

Cachaça 100% orgânica ganha o mundo

Em Morretes, a cachaça é um "substantivo feminino". Essa é outra descoberta da jornalista Teresa Urban e do fotógrafo Nego Miranda, que dedicaram um capítulo do livro para contar os vínculos da cidade com a aguardente de cana-de-açúcar, desde 1700, quando a atividade começou a ser explorada na região.

Dos engenhos em atividade - a maioria fechou as portas na década de 1970 -, quatro são dirigidos por mulheres, inclusive o Porto Morretes, o mais recente e de alta tecnologia. "Antigamente, mulher não chegava perto dos alambiques para não talhar o caldo e azedar a pinga, pois acreditavam que os hormônios femininos estragavam a cachaça", conta Miranda, que se declara, sem o constrangimento usual dos bebedores de cachaça, um apreciador do produto.

No passado, a cidade era uma referência tão forte na produção da bebida que tomar uma "morretiana" virou sinônimo de beber cachaça, conforme o dicionário Aurélio. Em Morretes, a produção inicialmente esteve nas mãos dos imigrantes italianos e esteve associada à expansão dos engenhos de açúcar, a partir do século dezesseis.
Os poucos engenhos que sobreviveram aos últimos cem anos continuam sendo um dos fortes apelos aos cerca de 120 mil turistas que passam por Morretes ao ano. Os visitantes que apreciam o produto poderão provar não apenas as várias marcas artesanais fabricadas nos pequenos alambiques locais - alguns também dedicados à aguardente de banana -, mas também encontrarão uma versão orgânica. Esta é fruto de novos investimentos realizados na cidade por conta da evolução do ecoturismo, atividade que também atraiu várias pousadas e restaurantes.

A Porto Morrete, em breve, começará a ser exportada

Da junção do tradicional com o novo, que se fundem na economia da cidade, nasceu a cachaça orgânica Porto Morretes, fabricada em um engenho construído no pé da Serra do Mar e que em breve começará a ser exportada para vários países, dentre eles Estados Unidos, Canadá, França, Portugal, Chile e Japão. "Nossa idéia é resgatar Morretes como expoente na produção de cachaça", enfatiza Luiz Guareschi, um dos proprietários. Em 2003, ele e seu sócio, o também engenheiro Fulgêncio Torres, deixaram suas carreiras estáveis de executivos da Volvo, em Curitiba, para tentar a sorte com a produção de cachaça orgânica.

Os alambiques têm capacidade para fabricar até 100 mil litros da bebida

Embora tenha capacidade para produzir 100 mil litros de cachaça ao ano, atualmente a Porto Morretes limita-se à metade. Os planos são chegar a 200 mil litros ao ano daqui a no máximo cinco anos. Dessa produção total, a meta é vender 50% no mercado interno e exportar o restante. O alvo é justamente o público exigente que não tem medo de assumir que gosta tanto de uma boa cachaça quanto um uísque doze anos, sublinha Guareschi.

A empresa aposta na certificação de produto 100% orgânico como diferencial. Além dos certificados de produto orgânico, emitidos pela Ecocert Internacional para os mercados brasileiro, europeu e dos Estados Unidos, a Porto Morretes também foi considerada como apta para consumo pelas comunidades judaicas. Aprovada pelo grupo de rabinos encarregado de verificar os alimentos adequados para consumo dentro das normas religiosas, a Porto Morretes é a única cachaça, dentre as doze marcas orgânicas existentes no País, escolhida para compor a lista de mercadorias "kosher".
(10.05.07 - Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 10)(L.L.)

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