terça-feira, 31 de março de 2009

Até os pubs britânicos querem ajuda do governo

O tradicional pub britânico - já em rápido declínio em meio à recessão - pode entrar em extinção se o governo não começar a estudar ações radicais de ajuda aos donos de pubs individuais.

Relatório que será publicado hoje pelo Institute for Public Policy Research (IPPR), entidade de pesquisas de esquerda, diz que um congelamento das tarifas sobre a cerveja e um corte de impostos sobre a atividade são necessários para ajudar a frear a onda de fechamento de pubs - hoje a uma média de 39%.

Rick Muir, pesquisador sênior no IPPR e autor do relatório, diz que especialmente os pubs de bairros estão sob excessiva tributação e regulamentação. "O governo precisa parar de usar uma abordagem única para autorizar o funcionamento de pubs que está matando os estabelecimentos em bairros", diz ele. Em vez disso, continua, pubs locais bem administrados deveriam ser incentivados e apoiados.

"Os pubs de bairros são mais do que simplesmente empresas privadas que vendem bebidas alcoólicas. São também lugares onde as pessoas encontram seus vizinhos; onde clubes locais realizam reuniões e eventos; e que dão suporte a muitos serviços locais importantes, como de postos de correios locais e lojas [de conveniência]" .

Assim como bancos, fabricantes de carros e construtoras foram praticamente arrasados pelo vendaval das mudanças econômicas no ano passado, o setor britânico de pubs está combatendo sua própria batalha pela sobrevivência. Nos últimos meses, diversas empresas entraram em concordata, entre elas o Orchid Group, que administra redes Country Carvery e Sri Thai, e o Food & Drink Group, dono dos bares de vinho Jamies.

Mas apesar de a proibição ao fumo, dos fortes descontos oferecidos por supermercados e do desaquecimento econômico terem dado aos britânicos razões para deixar de ir a seus tradicionais "botecos britânicos" e beber em casa, Muir diz haver medidas que o governo poderia tomar para evitar mais fechamentos.

Isso incluiria um preço mínimo para bebidas alcoólicas, para impedir que supermercados vendam cerveja abaixo do custo, bem como uma reavaliação governamental sobre a maneira com funcionam comercialmente os pubs.

Membros do Parlamento estão investigando se "acordos cervejeiros" - sob cujos termos os operadores vinculados a grandes grandes empresas donas dos pubs, como Punch Taverns e Enterprise Inns são contratualmente obrigados a comprar sua cerveja a, por vezes, preços elevados - são responsáveis por obrigar muitos operadores a baixar suas portas.

"A maneira como os 'acordos cervejeiros' são atualmente operados precisa ser reformulada e é necessário que se adote um código de conduta obrigatório para garantir que os valores dos alugueis sejam calculados de maneira transparente, e que exista um sistema de arbitragem independente e acessível para solucionar divergências entre companhias proprietárias de pubs e seus operadores individuais", diz.
(Pan Kwan Yuk, Financial Times - 31/03/2009)

terça-feira, 17 de março de 2009

Aberta a 'temporada' de consumo de peixe

O período da Quaresma, quando o peixe entra em evidência no mercado, é uma boa oportunidade para criar o hábito de incluí-lo nas refeições. Os nutricionistas recomendam que se leve o alimento para a mesa duas vezes por semana nas formas cozida ou assada. Mas escolher o produto nem sempre é tarefa fácil. Peixe congelado ou fresco? De rio ou de mar? De escama ou de couro? Nativo ou de cativeiro?

Muitas vezes, a diferença está no sabor e na forma de preparo, explica o engenheiro de pesca da Emater, Luiz Eduardo Guimarães de Sá Barreto, o Lula. Ele explica, por exemplo, que o gosto de terra que muitos sentem ao consumir peixes de rio vem de uma substância presente nas chamadas algas filamentosas que existem nesses ambientes. O sabor característico é conhecido como ''off flavor''.

''Mesmo os peixes que não comem essas algas trazem o gosto, que entra na carne quando eles respiram. Peixes de cultivo (cativeiro) às vezes apresentam 'off flavor', já que as algas filamentosas podem estar presentes nas represas também'', esclarece Lula. Ele diz que o gosto acentuado pode desaparecer se o peixe passar por uma depuração, que consiste em deixar o animal vivo em um tanque com água corrente durante vários dias.

''O peixe nativo não tem como passar pelo processo, pois geralmente é tirado da água já morto. Os de cultivo são tirados vivos e transportados em caixas até a indústria, onde passam pelos tanques de depuração até irem para o abate'', explica o engenheiro.

O fato de os peixes de cativeiro só comerem ração não tem influência sobre o sabor ou a qualidade da carne, segundo Lula. ''Hoje, 90% da tilápia consumida no Brasil se alimenta de ração. E não se vê diferença na carne'', pondera. Ele argumenta que a ração de peixe tem como base a soja, que é benéfica para a saúde humana.

Conforme o engenheiro, as diferenças entre peixes de escama e couro estão no aspecto visual e na forma de limpá-lo e prepará-lo. ''As escamas têm que ser retiradas para o preparo, mas se o peixe for grelhado pode deixar. Já o couro não precisa retirar, só lavar. Os de couro são bastante usados para fazer moqueca'', observa.

Flávia, nutricionista: ‘‘Pessoas que mantêm consumo regular de peixe costumam ter menos doenças como Parkinson, Alzheimer e câncer’’

Entre os peixes de escamas mais conhecidos na Bacia do Paranapanema estão pacu, tilápia, curvina, piauçu, piau-três-pintas e piracanjuba. Na lista dos de couro entram pintado, cachara, jundiá, mandiuva, mandi, barbado, entre outros.

Nos supermercados, porém, é mais comum encontrar peixe de mar, com destaque para merluza, salmão, linguado, dourado (esse tem de mar e de rio) e cação. Sobre este último, uma curiosidade. ''É um tubarão, que ainda não cresceu, existente em todo o litoral brasileiro'', diz Lula.

Para o engenheiro, a diferença entre os peixes de água salgada e de água doce é só uma questão de paladar. ''Eu, que fui criado no litoral, em geral prefiro peixe de mar. No entanto, um dos melhores peixes que já experimentei na vida foi um pintado, de água doce'', observa.

Outra característica das carnes das diferentes espécies está na coloração. Existem as carnes brancas (tilápia, linguado, merluza, pescada, curvina), as vermelhas (bagre-africano, atum, pargo) e as salmonadas (salmão, matrinxã). ''Em geral, as salmonadas são as que mais atraem o consumidor'', observa Lula. As mais fáceis de encontrar no mercado, porém, são as brancas.

Entre peixe fresco e congelado, o melhor é ficar com a primeira opção. O representante da Emater ensina que é preciso observar: se o ambiente está refrigerado de forma adequada, se os olhos do peixe têm brilho, se as brânquias (ou guelras) têm cor vermelho vivo, se não há sinal de ferida e se a musculatura está firme.

''Quando você tocar no peixe, a musculatura tem que voltar de imediato. Se tocar e afundar, ele não está bom'', informa. No caso dos congelados, o consumidor deve optar pelos produtos embaladados que trazem data de validade.

  ‘‘O pei­xe é uma adi­ção ma­ra­vi­lho­sa a qual­quer die­ta sau­dá­vel. Ge­ral­men­te o ­teor de gor­du­ra é bai­xo, fa­zen­do de­le uma óti­ma op­ção de pro­teí­na. A gor­du­ra que ele con­tém é pra­ti­ca­men­te uma pro­mes­sa de cu­ra e pre­ven­ção de ­doenças’’, diz a nu­tri­cio­nis­ta Flá­via Au­gus­ta Tu­ti­ni Pa­ga­no.

Teor de gordura baixo e boa fonte de proteína
Do pon­to de vis­ta nu­tri­cio­nal, os ­mais in­di­ca­dos são os cha­ma­dos pei­xes ‘‘­gordos’’, por tra­ze­rem ôme­ga 3, que são áci­dos gor­du­ro­sos po­liin­sa­tu­ra­dos (gor­du­ras ­boas). ‘‘Es­tu­dos mos­tram que o ôme­ga 3 tem efei­to pro­te­tor pa­ra a saú­de do co­ra­ção e é im­por­tan­te pa­ra a fun­ção e o de­sen­vol­vi­men­to do ­cérebro’’, afir­ma a nu­tri­cio­nis­ta.

O ôme­ga 3 po­de ser en­con­tra­do em pei­xes das ­águas ­frias e pro­fun­das do ocea­no co­mo sal­mão, ­atum, ba­ca­lhau, aren­que, tru­ta e sar­di­nha. Po­rém, a ­maior con­cen­tra­ção des­sas ‘‘gor­du­ras ­boas’’ es­tá em pei­xes na­ti­vos. ‘‘Sa­be­mos que os pei­xes de ca­ti­vei­ros, fá­ceis de se­rem en­con­tra­dos nos su­per­mer­ca­dos, têm bai­xo ín­di­ce de ôme­ga 3 por­que co­mem ra­ção e não os plânc­tons que es­tão nas ­águas ­mais pro­fun­das e ­frias do ocea­no, de on­de vem o ôme­ga 3’’, ex­pli­ca Flá­via.

Se­gun­do a nu­tri­cio­nis­ta, pes­qui­sas re­cen­tes con­fir­mam os be­ne­fí­cios da in­ges­tão de pei­xe tan­to pa­ra ho­mens quan­to pa­ra mu­lhe­res. Es­tu­dos li­ga­ram os áci­dos ôme­ga 3 à di­mi­nui­ção do ris­co de in­far­to e des­co­bri­ram que pes­soas ‘‘de ­mais ­idade’’ que co­mem uma por­ção de pei­xe ‘‘­gordo’’ por se­ma­na têm 44% me­nos chan­ce de so­frer um in­far­to.

Quan­to à for­ma de pre­pa­ro, Flá­via re­co­men­da as re­cei­tas as­sa­das ou em mo­lho. ‘‘Nun­ca pei­xe fri­to, por­que quan­do fri­ta­mos acres­cen­ta­mos gor­du­ra sa­tu­ra­da (gor­du­ra ­ruim)’’, diz. Ela re­for­ça que o ­ideal é in­cluir o ali­men­to na die­ta ­duas ve­zes por se­ma­na. ‘‘Pes­soas que man­têm ali­men­ta­ção ba­lan­cea­da e con­su­mo re­gu­lar de pei­xe cos­tu­mam ter me­nos doen­ças reu­ma­to­ló­gi­cas, car­día­cas e de­ge­ne­ra­ti­vas, co­mo Par­kin­son, Alz­hei­mer e ­câncer’’, des­ta­ca. (G.M.)

Gisele Mendonça (Folha de Londrina-PR)

sexta-feira, 6 de março de 2009

Breve história da caipirinha

Clássicos são assim: parecem ter existido desde sempre. Mas, naturalmente, começaram sua presença no mundo em algum momento. É o caso do drinque mais caracteristicamente brasileiro. Dizem que a caipirinha surgiu no interior de São Paulo – daí, seu nome. Seria uma variação de uma receita popular para a gripe, à base de limão, alho e mel. “A versão mais vigorosa aboliu os dois últimos, adotando cachaça e um pouco de açúcar para cortar a acidez do limão”, assegura Maria Lúcia Uchôa, autora de Caipirinha – O drinque popular brasileiro (Casa da Palavra).

Sua presença já era notável ao fim da primeira metade do século passado, quando, em 1945, o bom bebedor e embaixador brasileiro escreveu seu impagável – e agora recém-editado – Drinkologia dos estrangeiros, um compêndio de artigos sobre drinques pátrios e recém-chegados pelas mãos de estrangeiros imigrantes e egressos da Europa pós-guerra. É a caipirinha, naturalmente, herdeira direta e dileta das batidas, ou a mais famosa delas. “Batida, em brasileiro, tem já um significado especial. Não é, como se poderia supor, qualquer aperitivo preparado em batedeira”, escreveu ele, cristalizando uma fórmula antiga, já abandonada pelo gosto popular: “Para um cálice de Paraty (cachaça), um quarto de suco de limão, uma colher, das de chá, da clara fina do ovo para ligar, bastante assucar (sic), bater com gelo. Em geral, a borda do cálice é recoberta com assucar, o que se consegue molhando-a ligeiramente com um pano úmido e invertendo-a sobre um assucareiro. Na opinião de muitos, o assucar, que adere à borda do cálice por esse processo, dá um aspecto convidativo à bebida”.

A fórmula, sabemos, simplificou-se bastante: basta uma boa cachaça, limão, açúcar e gelo. “Seus ingredientes fazem com que funcione como adstringente, quando associada a pratos mais pesados como feijoada e churrasco”, diz Maria Lucia Gomensoro, no seu Pequeno dicionário de gastronomia.

A glorificação da bebida sob a forma de caipirinha recebeu elogios de outro ilustre pesquisador de nossos hábitos de copo e mesa. “A história da ascensão social da batida dentro do que (...) Maurício Nabuco chamaria drinkologia brasileira é uma história de legítimo enobrecimento de um produto vindo das próprias raízes do Brasil. E que, enobrecendo-se, só faz concorrer para o engrandecimento da cultura brasileira”, discorreu Gilberto Freyre.J

(Jornal do Commercio-PE/Bruno Albertim)