quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Lamúria de cliente em bar faz de garçom "psicólogo" da noite

Balcões e mesas de botecos na cidade abrigam clientes de divãs improvisados para aqueles que querem desabafar. Histórias mais comuns ouvidas pelos barmen são as de amor, relatadas pelos que exageram na bebida para esquecer uma traição

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL/FOLHA DE S.PAULO

Garçons e barmen que trabalham na noite exercem involuntariamente uma segunda profissão -a de "psicólogos". Os balcões e as mesas de bar se tornam divãs improvisados nos quais desabafam diferentes tipos de cliente -do encrenqueiro ao dorminhoco.
São as histórias de amor as mais comuns -principalmente as relatadas pelo tipo dor de corno, que exagera na bebida para esquecer que foi deixado ou traído pela mulher.
"Tive um cliente que havia sido traído. Ele bebeu oito caipirinhas, pulou para dentro do bar e começou a gritar o nome da mulher. Estava desesperado. Tentei acalmá-lo, dar uma palavra amiga", conta Antonio Vitorino Filho, há 25 anos no Bar Brahma como barman, garçom e agora maître.
Aos 50 anos, Vitorino disse já ter visto e ouvido de tudo. E é a experiência que o ajuda a dividir os clientes em tipos e a saber lidar com eles. Para o "mala", aquele que fala pelos cotovelos, inventa que tem muito dinheiro e ainda pede desconto, a solução é alertar os outros garçons para não serem fisgados -e manterem distância.
Por outro lado, Vitorino diz gostar de dar muita atenção e ouvir o cliente divertido, que costuma ser mais legal bêbado do que sóbrio. "Ele não se lamenta, quer atenção para histórias de sua infância." Depois da sessão informal, o "paciente" acaba beijando os funcionários do lugar -é o tipo "beijão".

Encrenca
O barman Juan José Perea, da casa Bourbon Street Music Club, em Moema, que faz 50 drinques por dia, também conta casos de clientes que relatam traições ou anseios em relação às mulheres e que, não raro, arrumam encrenca.
Um cliente seu resolveu atirar-se sobre a garçonete e precisou ser contido. Outro pediu a Perea que entregasse um bilhetinho a uma mulher sentada no balcão. Tratava-se, contudo, da namorada do barman.
Mas o tipo mais comum no "divã" de Perea é o falastrão. É o bêbado cuja "conversa não faz curva", explica. Um grupo com esse perfil prometeu-lhe diversas vezes uma churrascada, só realizada depois que ele resolveu cobrar. "Dando atenção para eles, virei amigo de verdade. A festa se repete todo ano", diz.

O popular
Garçons mais simpáticos, tidos como mais "acessíveis", acabam dando mais abertura para que os clientes desabafem.
É o caso de Ailton Manuel da Silva, 40, do Filial, na Vila Madalena, que é um personagem por si só. Do tipo que todos cumprimentam ao entrar no bar: "E aí, Ailtinho..."
Ele diz que já foi abordado por um cliente que temia que sua mulher, que mudaria para outro país, o deixasse -aconselhou, mostrou que não havia motivo para tristeza e recomendou mais otimismo.
Em outro ocasião, um homem chorava de saudades da mãe, que havia morrido. Silva, que também já perdeu a mãe, disse a ele que entedia perfeitamente como era sentir-se daquele jeito. "Você divide um pouco o peso que a pessoa traz."
Silva lamenta, contudo, que alguns clientes reclamem de tudo e parecem pensar que apenas eles têm problemas.
Ele, assim como Perea e Vitorino, afirmam que dão atenção aos "pacientes" porque se apegam a eles, e não para manter o cliente na casa. Quando o "paciente" exagera na bebida, por exemplo, aconselham: "Melhor parar por aqui".

OUVIDO AMIGO: BARMAN NÃO SUBSTITUI PSICÓLOGO, MAS PODE AJUDAR

Desabafar com o barman não equivale a um tratamento psicológico, mas pode ajudar a preencher uma necessidade, diz a professora do Instituto de Psicologia da USP Leila Salomão Tardivo. Ela afirma que há pessoas que sentem necessidade se de abrir e encontram no barman uma fonte de empatia e carinho. "Isso acontece com o cabeleireiro também. São pessoas que podem emprestar um ouvido atento, aliviar e dar apoio ao cliente." Falar com desconhecidos também pode ajudar nesse sentido.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Bar do Magrão é indicado pela Veja SP


Seguindo a tradição, o Bar do Magrão é novamente indicado pela VejaSP no guia especial Comer & Beber 2010/2011, desta vez entre as três melhores cartas de cervejas da cidade.
Veja aqui os indicados e vencedores.

BAR DO MAGRÃO - Cheio de personalidade, o boteco do paulistano Luiz Antonio Sampaio, o Magrão, é uma das atrações do Ipiranga. Repare na amalucada decoração, com objetos de todo o tipo - de relógios a sapatos de palhaço - espalhados pelo pequeno e escuro ambiente. A iluminação baixa e a oferta de cervejas (setenta rótulos) dão um viés de pub ao lugar. Entre as boas loiras, morenas e ruivas estão a belga Lucifer (R$ 22) e a francesa Bière du Désert (R$ 16) - ambas claras e do tipo strong ale. No cardápio destacam-se três receitas de escondidinho. Sai por R$ 14 o de carne seca com purê de abóbora cabochá (variedade japonesa, mais adocicada) e catupiry.
Rua Agostinho Gomes, 2988, Ipiranga tel. 2061.6649 (35 lugares) 17h/0h (sáb. a partir das 12h. dom. 12h/22h; fecha seg.)

O Bar, claro, esteve presente na festa de premiação, no HSBC Brasil. Confira como foi:

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Investimento novo na cerveja gourmet

Seis anos depois de ser criada, a microcervejaria Bierland, de Blumenau (SC), decidiu iniciar a produção de cervejas. Há dois meses, a Opa Bier, de Joinville (SC), três anos após sua fundação, fez o mesmo. As pequenas empresas, que até então só fabricavam chope e tinham suas vendas concentradas em Santa Catarina, seguem a tendência já em curso neste setor e com o novo produto começam a desbravar outros Estados, em busca dos apreciadores de cervejas premium.

A Bierland investiu R$ 700 mil para entrar nesse tipo de produção. Parte dos recursos foi financiada. A intenção é chegar com o novo produto aos três Estados do sul do país, além de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A Opa Bier não revela o investimento, mas fechou parcerias para atuar no sul do país e espera em novembro fechar também com um parceiro sua entrada em São Paulo.

"O mercado de cervejas artesanais cresce de forma gradativa. Não é um produto de grande volume de consumo, mas hoje já existe uma cultura de 'cerveja gourmet', com as pessoas discutindo aroma e sabor, como ocorre com os vinhos", diz Luiz Alexandre de Oliveira, sócio da Opa Bier.

Eduardo Krueger, sócio da Bierland, que passou dois anos estudando a entrada no ramo de cervejas, concorda. Não à toa algumas microcervejarias como Baden Baden e Eisenbahn foram compradas em 2007 e em 2008, respectivamente, pela Schincariol, de olho no potencial deste segmento.

O investimento na produção de cerveja representa o passo mais importante desde que essas microcervejarias foram criadas pela nova dimensão que o negócio poderá tomar. Com prazo de validade de seis meses, a cerveja permite um raio de ação para distribuição maior do que o chope, cuja validade é de até 10 dias.

A intenção é com a cerveja projetar a marca Bierland (os produtos têm o mesmo nome da empresa) no mercado nacional, explica Krueger. Oliveira, da Opa Bier, já faz planos para uma nova unidade da fabricação para dar conta da demanda que espera ser criada.

A nova investida da Bierland chega ao mercado nos próximos dias, com três tipos: trigo, pilsen e escura, todas no tamanho 600 ml. A concorrência se dará com produtos como Bohemia Confraria, Devassa, Baden Baden e importadas alemãs e belgas. A distribuição da Bierland nos mercados-alvo focará inicialmente restaurantes e casas especializadas em oferecer cervejas premium, mas Krueger diz que a intenção é seguir o caminho antes trilhado pela Eisenbahn. A Eisenbahn, quando começou a desbravar o mercado paulista, fechou parceria com uma rede de grande porte, o Pão de Açúcar. "Estamos em negociações com parceiros deste tipo", explica.

A Opa Bier, que começou a produção e venda de cervejas em julho, investiu em embalagens long neck e em 600 ml descartáveis. São cinco variedades de cervejas: pilsen, pale ale, porter (escura), trigo e sem álcool.

A Bierland não revela qual será o volume de produção de cerveja, mas no primeiro ano a meta é incrementar em 50% o seu faturamento total. A capacidade total de produção da empresa é de 70 mil litros/mês (para chope e cerveja). A Opa Bier tem capacidade para 190 mil litros/mês (chope e cerveja) e não revela valores de faturamento.

A opção da Bierland e da Opa Bier em produzirem cerveja em breve poderá ser seguida por outras microcervejarias de SC como Das Bier e Schornstein, que possuem projetos nessa área.

Em 2003, a Bierland iniciou a produção com apenas 20 mil litros/mês. Hoje, tem três sócios, um moinho para triturar o malte e 16 pessoas. A Opa Bier, criada em 2006, tem 36 funcionários.
(VALOR)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Cidade gaúcha "exporta" churrasqueiros

Nova Bréscia, a 161 km de Porto Alegre, viu sua população encolher de 11 mil para menos de 3.300 habitantes

Apontado como o criador do rodízio de carnes, Albino Ongaratto deu início ao êxodo em 1967

JOSÉ MASCHIO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA BRÉSCIA (RS)

Mesmo sem saber, quem frequenta churrascarias certamente já encontrou um bresciense. Criadores do rodízio de carnes, os naturais de Nova Bréscia (RS) ganharam "know-how" de churrasqueiros e se espalharam pelo Brasil e por 16 países.
Cálculos da Prefeitura de Nova Bréscia (161 km de Porto Alegre) apontam que hoje 10 mil brescienses atuam na atividade longe do município. Por isso, a cidade encolheu -tinha, na década de 60, 11,2 mil habitantes e, hoje, tem menos de 3.300.
O êxodo de brescienses começou em 1967, quando Albino Ongaratto (1928-2007) deixou a cidade natal e montou a churrascaria Jacupiranga, no km 477 da BR-116, em Registro (SP), próximo à divisa com o Paraná.
Apontado como o criador do "espeto corrido", o rodízio de carnes, Ongaratto acabou levando outros brescienses a seguirem seu caminho.
O roteiro geralmente é este: deixam Nova Bréscia na adolescência para trabalhar de copeiro. Depois, passam a garçons e, finalmente, montam uma churrascaria.
Apesar de ajudar a espalhar churrascarias pelo mundo, Nova Bréscia não possui nenhuma. Por quê? O prefeito, Diogenes Laste (PP), 49, esclarece: "É que aqui cada um acha que faz o melhor churrasco. Logo, não precisa de uma churrascaria".

"DIÁSPORA"
Um dos filhos ilustres de Nova Bréscia que seguiu a tradição é Neodir Mocellin, dono da rede Porcão, com unidades no Rio, Brasília e Belo Horizonte.
Os quatro filhos de Germano Laste, 83, também provam esse talento. Ex-alfaiate e representante comercial, Laste viu seus filhos deixarem Nova Bréscia para construírem uma rede de churrascarias pelo Brasil, onde a mais conhecida é a Vento Haragano, em São Paulo.
Muitos voltam para a terra natal para se aposentar. É o caso de João Carlos Biazibetti, 49, que saiu de Nova Bréscia há 20 anos para trabalhar como copeiro no Rio e se tornou dono de churrascarias na capital fluminense e em São Gonçalo.
Hoje, deixou os negócios para os parentes sócios. "Fiz de tudo em uma churrascaria nesses anos. Agora, só quero jogar bocha, cuidar da minha horta e torcer para o Inter."


"Garçom trapalhão" teria criado rodízio

DO ENVIADO A NOVA BRÉSCIA (RS)

A versão preferida pelos brescienses para a criação do "espeto corrido" é a de um garçom trapalhão, que vivia confundindo pedidos na churrascaria Jacupiranga, de Albino Ongaratto, em Registro (SP).
Para resolver a confusão -a troca de espetos-, Ongaratto decretou que os espetos com os diversos tipos de carne seriam passados de mesa em mesa. Surgia o rodízio de carnes.
Adelcio Domingos Cestari, 64, que saiu de Nova Bréscia em 1967 para trabalhar com Ongaratto, prefere atribuir à visão empresarial do ex-patrão a criação do sistema.
"Naquela época não existia rodízio sofisticado como hoje, com muitos tipos de carne. Eram no máximo cinco ou seis as variedades. Albino, com visão, criou o sistema de rodízio para facilitar o serviço e oferecer opções aos clientes", afirma Cestari.
Ele nega ter sido o garçom trapalhão e diz que o sistema criado por Ongaratto foi o "ovo de Colombo" para o crescimento em todo o país das churrascarias. E o "espeto corrido" é o responsável êxodo dos brescienses.
Reverenciado na cidade como herói, Ongaratto deixou uma tradição familiar em churrascarias. Hoje, as segunda e terceira gerações dos Ongaratto administram churrascarias de luxo pelo Brasil. A Batel Grill, em Curitiba(PR), por exemplo, é de descendentes de Ongaratto. (JM)
(Folha de S.Paulo 18/08/2010)