Depois das primeiras vendas no mercado nacional, iniciadas há pouco mais de um ano, produtores de vinhos finos de Santa Catarina começam a desbravar o mercado internacional. O empresário Celso Panceri, dono da vinícola Panceri, no meio oeste catarinense, deu início às primeiras exportações com um embarque há cerca de 15 dias para a República Tcheca. A venda internacional representa a primeiras feita das novas regiões vinícolas do Estado (Tangará, Água Doce e São Joaquim), onde houve início do cultivo de cabernet sauvigon, merlot e pinot noir, em 2000. O volume exportado, cerca de mil garrafas, é pequeno, mas Panceri acredita que poderá ser o início de uma parceria duradoura.
"Estamos abrindo as portas do mercado internacional", afirma. As exportações foram para um país que é produtor, mas entre os europeus é um dos menores. A República Tcheca já importa vinhos do Rio Grande do Sul há pelo menos três anos, mas a venda do Panceri, de um vinho chardonnay, é o primeiro teste com vinhos finos catarinenses.
Celso Panceri despachou seu primeiro lote de chardonnay para a República Tcheca, que já importa vinhos do Rio Grande do Sul
A negociação ocorreu com apoio do Programa Wines from Brazil, uma parceria entre o Instituto Brasileiro do Vinho e o governo federal, que por meio da Apex, apóia encontro de produtores com compradores internacionais, ajuda nos custos de exposição dos vinhos fora do país em feiras e promove encontros com formadores de opinião. Panceri, único representante de Santa Catarina no programa, diz que tem como próximo alvo a Inglaterra, depois de ter participado em maio de uma feira internacional de vinhos, a London International Wine & Spirits Fair.
A chegada ao mercado internacional dos vinhos finos de altitude de Santa Catarina começa a ser estudada também por outras vinícolas e poderá ganhar mais força entre o fim deste ano e 2008, quando Villa Francioni e Villaggio Grando pretendem também fazer suas primeiras incursões. Cada empresa tem uma estratégia diferente.
A Villa Francioni, do empresário João Paulo Freitas, presidente do conselho de administração da Cecrisa, quer chegar aos Estados Unidos, por meio de parcerias com restaurantes brasileiros como Porcão e Fogo de Chão, e em Dubai, onde tem negociado a entrada em hotéis e companhias aéreas.
A Villaggio Grando, do empresário Maurício Grando, presidente da empresa Madepinus, poderá ainda neste ano enviar as primeiras garrafas à França. Grando diz que já houve interesse de empresários franceses em levar o vinho para lá, mas ele considerou precipitado neste momento porque ainda está trabalhando seu portfólio de produtos - lançou o primeiro vinho, o Innominabile, há cerca de dois meses no mercado nacional.
"Estamos botando o olho no mercado internacional, queremos participar, mas ainda não fechamos as vendas, estamos em conversações", diz Grando. Na sua opinião, a venda externa pode trazer reconhecimento aos vinhos produzidos no Estado e inclusive resultar em uma valorização de preços. "Quando acessarmos o mercado externo, vamos mostrar que a qualidade do vinho produzido aqui é igual a de qualquer outra região do mundo já reconhecida hoje por ter bons vinhos, e muito valorizados", acredita. Além da França, fazem parte do mercado-alvo da Villaggio a Itália e os Estados Unidos. A estratégia de Grando para iniciar os contatos internacionais tem sido receber clientes da sua outra empresa, a Madepinus, na área de produção de vinhos.
A produção de vinhos finos em Santa Catarina começou a ser feita por empresários de diferentes setores e ainda são produções pequenas. A Panceri produz hoje cerca de 80 mil garrafas de vinhos finos, a Villa Francioni produz volume similar, a Grando produz 170 mil garrafas e a Sanjo, cooperativa de maçã de São Joaquim, 75 mil, que recém-lançou o seu primeiro tinto, o Maestrale.
Freitas, que também preside a Associação Catarinense de Vinhos finos de Altitude (Acavitis), com 37 associados, diz que as empresas ainda estão no início de um processo de inserção no mercado nacional, com seis produtores somente comercializando o produto, e que os projetos internacionais que já existem são direcionados a mercados que "endossem a qualidade do vinho".
Panceri, que há cerca de quatro anos se associou ao empresário Caio Pisani, e vem gradualmente focando sua produção em vinhos finos, acredita que a exportação é o caminho para os produtores, até mesmo para aqueles que têm como prioridade as vendas no mercado nacional. "Uma grande massa de consumidores brasileiros acha que os bons vinhos estão lá fora", diz ele, que acredita que ao exportar criará uma imagem positiva também dentro do Brasil. Apesar de o câmbio não estar neste momento favorável às exportações, os empresários dizem que este não é um grande problema. Panceri, por exemplo, destaca que não há contrato de longo prazo e que é possível negociar preços com lucratividade, mesmo na primeira venda. (Vanessa Jurgenfeld/Valor Econômico)
sexta-feira, 29 de junho de 2007
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