quarta-feira, 20 de junho de 2007

Muito além do Grito do Ipiranga

Independência ou... um belo prato de paella! Para quem mora do lado lá da cidade pode parecer fora de mão sair das zonas oeste ou norte para comer no bairro onde Dom Pedro I teria proferido o famoso grito do Ipiranga – "Independência ou morte!". Mas a região esconde (em alguns casos, literalmente) ótimos endereços que fazem a visita valer a pena. Melhor ainda se combinar o almoço com um passeio ao Parque da Independência, uma bonita área verde que engloba ainda o Museu Paulista da Universidade de São Paulo, o Museu do Ipiranga, instalado no belo prédio de estilo neo-renascentista de 1895.

O bairro do Ipiranga, conhecido principalmente pelo museu neo-renascentista, esconde delícias gastronômicas



Na Rua Bom Pastor, ninguém imagina que um discreto sobrado abriga uma das melhores paellas de São Paulo. O mais famoso prato da culinária espanhola é feito pela família Gutiérrez Benedetti – Maria del Pilar (a mãe) e os filhos, Liliane e Mário Sérgio. A receita foi trazida pelo patriarca da família José Gutiérrez Espin, o Pepe (daí o nome Paellas Pepe), que é o avõ do casal de filhos de Maria del Pilar. Mas o restaurante nasceu quando o filho de Pepe, Emilio, começou a cozinhar para os amigos, há dez anos.

Depois de receber amigos em casa durante dois anos (sempre às sextas à noite e aos domingos no almoço), Emilio transformou a casa no restaurante nada convencional da família. Depois da morte de Emílio, mãe e filhos passaram a se revezar na hora de cozinhar – a paella é preparada na frente dos clientes. "Por favor, só coloque o telefone e o nome da rua", pedem os filhos. Eles não querem ter de mandar de volta cliente que resolva aparecer sem antes ter ligado.

Como o prato demora duas horas para ficar pronto, a pessoa pode escolher chegar cedo e acompanhar o passo-a-passo da receita ou aparecer apenas quando tudo estiver quase pronto. Um sino, então, é tocado, avisando que está na hora de se deliciar. Custa R$ 30 por pessoa, e o cliente se serve à vontade. No dia em que a reportagem esteve lá, uma mesa com quatro clientes só foi embora no fim da tarde, depois de um almoço que havia começado às 13 horas. "Acabou o camarão ou o lagostim? Nós cozinhamos mais para repor", diz o filho Mário Sérgio. O telefone é 6163-9570.

Quem não dispensa um ótimo hambúrguer precisa conhecer a lanchonete do "seu" Oswaldo. Há 40 anos, o endereço (Rua Bom Pastor, 1659, sem telefone) é unanimidade, e a fama já ultrapassou há muito os limites do bairro. O lugar não é bonito, não tem decoração moderna (aliás, não tem decoração alguma), o balcão com apenas 16 bancos vive cheio, mas o hambúrguer, além de excelente, é muito barato se comparado a endereços dos Jardins, Itaim Bibi ou Pinheiros. Os preços variam de R$ 3,50 (o hambúrguer simples) a R$ 5,50 (o cheeseburger com ovo). Como o lanche é pequeno, a maioria dos clientes acaba comendo dois. Esqueça as fritas ou qualquer outra "frescura", como porção de onion rings , para acompanhar. Não tem nada disso lá. O hambúrguer desce bem com o refresco de laranja (R$ 1,50).

Dizem que o segredo do lanche é o molho de tomates que vai em cima do hambúrguer enquanto ele ainda está na chapa – a receita é segredo. Aos 70 anos, seu Oswaldo tem ficado cada vez menos na lanchonete, o que não comprometeu até agora a excelência de seu hambúrguer. Depois da morte da esposa e do filho, os vizinhos têm demonstrado preocupação com seu estado. "Ele está bastante abatido", comenta Liliane, do Pepe. Outro que se mostrou apreensivo é Luiz Antônio Sampaio, o Magrão, do bar que leva seu nome.

Na Rua Agostinho Gomes, 2.988, funciona há 12 anos o Bar do Magrão, onde só blues, rock e jazz têm vez. As mais de 40 marcas de cerveja são apreciadas pelos diversos músicos que freqüentam a casa e, às vezes, dão uma "palinha", segundo o proprietário, Luiz Antonio Sampaio. Ele é um guitarrista/vocalista "aposentado" que, à frente da banda Discagem Direta, abriu o show da cantora alemã Nina Hagen quando ela tocou em São Paulo no início dos anos 1980.

O bar é decorado com mil tranqueiras. Sapatos de palhaço, luvas de boxe, diversos relógios marcando todos 17 horas (a hora que o bar abre) e uma múmia estão espalhados pelo salão. "É tudo presente dos clientes. Só não penduro arma e bicho porque acho que não combinam." Para acompanhar as cervejas belgas e alemãs, o filé aperitivo (filé mignon, vinagrete, farofa e pão) custa R$ 26 e serve três pessoas.

Ao lado do bar, num ambiente diferente, são servidos pratos, como o ravióli de vitelo, uma massa de espinafre com recheio de vitelo (o boi novo) ao molho de tomate fresco, azeitona, mussarela de búfala e manjericão (R$ 37, porção para duas pessoas). (Diário do Comércio)

Nenhum comentário: