quarta-feira, 4 de julho de 2007

Vinho rosé volta à mesa do consumidor brasileiro

Por causa da má qualidade dos rótulos disponíveis no mercado nos anos 70 e 80, muita gente ainda torce o nariz quando ouve falar em vinho rosé. Mas esse conceito vem mudando, seguindo uma tendência verificada na Europa e, mais recentemente, nos Estados Unidos. A cada dia são lançadas marcas nacionais e importadas de qualidade bem superior aos produtos do passado. A diferença está sendo notada pelo consumidor. A procura tem aumentado e as vinícolas nacionais apostam na ampliação da produção.

"Nos anos 70, os rosés foram associados aos consumidores que não entendiam nada de vinho", lembra o enólogo argentino Adolfo Lona, dono de uma pequena vinícola com o mesmo nome especializada em espumantes, em Garibaldi, na serra gaúcha. A bebida, na época, tinha versões adocicadas elaboradas a partir de cortes de vinhos tintos e brancos, que renderam a má fama ao produto. Nos anos 80, quando era diretor da então Martini&Rossi no Brasil, Lona comandou o lançamento de um espumante brut rosé, mas o estigma da cor levou o produto a pique três ou quatro anos depois.

Em 2004, dono da própria vinícola, o enólogo colocou no mercado um novo brut rosé, que hoje representa 60% das vendas de espumantes da empresa, estimadas em 36 mil garrafas neste ano, ante 25 mil unidades em 2006 e 23 mil em 2005. "Nos últimos anos o mundo começou a descobrir as virtudes do rosé", comenta. O produto tem características intermediárias entre o aroma, o corpo e o sabor dos tintos e a jovialidade e a leveza dos brancos. É elaborado a partir de castas de uvas tintas, como pinot noir, e sua coloração suave se deve à separação das cascas pouco tempo depois da prensagem.

"É um vinho leve, sedutor, perfeito para as características climáticas do Brasil", diz Flávio Morais, um dos sócios da Enoteca Decanter, de Belo Horizonte. "Trata-se de uma tendência que veio para ficar. Vamos vender bem inclusive no inverno", acrescenta.

Ele conta um episódio que ilustra bem as razões de seu otimismo. A Enoteca Decanter encomendou 600 garrafas de rosés para uma degustação de espumantes italianos Ferrari que promoveu recentemente na capital mineira. Só conseguiu garantir 120 - o fornecedor informou que não tinha como atender todos os pedidos do Brasil e estava limitando as compras por cliente. Para a festa propriamente dita, sobrou pouco das 120 garrafas da Enoteca, de R$ 170 cada. "Tivemos de esconder algumas para não vender todas antes do evento", destaca o empresário.

O presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), Dirceu Scottá, estima que em três anos os vinhos e espumantes rosés saltaram de uma participação praticamente nula, há três anos, para algo entre 5% e 10% das vendas totais de vinhos no país. Embora não existam estatísticas precisas sobre esse tipo de produto, segundo os cálculos do presidente da ABE, os brasileiros estão consumindo de 3,5 milhões de litros a 7 milhões de vinhos rosés por ano. Nos espumantes, o consumo está entre 600 mil a 1,2 milhão de litros.

Para o diretor da Vinícola Miolo, Adriano Miolo, os rosés estão se consolidando como novo hábito de consumo. No ano passado a empresa lançou e vendeu mais de 50 mil garrafas de vinho e quase 70 mil de espumantes neste segmento. Para 2007, o volume deve superar as 100 mil garrafas de cada um e até o fim do ano, a Miolo pretende lançar mais um vinho ou espumante rosé a partir das uvas cultivadas no Vale do São Francisco.

A Casa Valduga aposta nos rosés desde 2000, quando colocou no mercado um vinho elaborado com uvas San Giovese e Barbera, diz o diretor João Valduga. Com vendas de 12 mil garrafas por ano, o produto ainda representa 2,5% da comercialização de vinhos da vinícola, mas como cresce mais rapidamente do que os brancos e os tintos, deve atingir 10% de participação em quatro anos. O espumante rosé da marca saiu em 2002 e também tem desempenho superior ao das demais linhas.

A Salton decidiu entrar no segmento há três semanas com um espumante brut e não se arrepende. Segundo o diretor Daniel Salton, até agora já foram vendidas 8 mil garrafas e a previsão até dezembro é alcançar 63 mil. "Estudamos o mercado desde o ano passado, depois que percebemos uma procura muito forte por este tipo de produto no exterior", explica. Ainda neste ano a vinícola, que no ano passado vendeu um total de 2,5 milhões de litros de espumantes e 1,8 milhão de litros de vinhos brancos e tintos, pretende lançar também seu primeiro vinho rosé.

Mais experiente no trato com o produto, a Chandon lançou seu espumante rosé em 1998. De acordo com a empresa, a média de crescimento de suas vendas no segmento está ao redor de 30%. Um percentual que supera a taxa de expansão do mercado total de espumantes, que segundo a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), cresceu 20% em 2006, para 12,2 milhões de litros, entre marcas nacionais e importadas. (Sérgio Bueno e Ivana Moreira/Valor Econômico)

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