segunda-feira, 30 de julho de 2007

Champanhe rosé, puro charme

Prestigiado, elegante e cada vez mais desejado, o champanhe rosé borbulha com sedução

Entre os amantes dos vinhos, a cor rosa gera muita polêmica - há os detratores e os defensores dos vinhos no meio do caminho entre os brancos e os tintos. Entretanto, quando se trata de champanhe, o rosa geralmente tem o dom de harmonizar as opiniões enquanto gera admiração. Não só há grandes exemplares de tonalidade rosé como também, na maioria das vezes, essa é a cor do que há de melhor nas casas produtoras da mitológica região de Champagne, a leste de Paris. A relação entre Champagne e nobreza é, até mesmo, geográfica. Era na catedral da encantadora Reims, uma das cidades mais importantes da região, que os reis eram coroados desde Luís XIV até o fim da monarquia na França. A região também tem outros grandes centros, como os arredores da Cidade de Epernay, onde o monge Dom Perignon, "inventou" essa bebida, que é o ponto alto dos eventos e lembra sucesso, comemoração e conquistas, além de evocar na vida de cada um de nós sentimentos relacionados a amor e paixão. Para quem nunca estourou um champanhe rosé com a pessoa amada, aí vai uma dica, ainda está em tempo.

O champanhe rosé é sinônimo de requinte e luxo e quase sempre é mais raro e caro que os brut "brancos". Na comparação de preços entre os bruts "brancos" e os bruts rosés, a diferença de preço gira em torno de 10% a 50% (a mais para os rosés, claro), e quando se trata de champanhes vintage (com safra) a diferença pode chegar a 100%. Se a idéia de comemoração, em geral, remete ao champanhe, quando ele é rosé há um toque ainda mais especial na celebração, que fica ainda mais charmosa, chique e sedutora. .

O champanhe rosé é um vinho muito especial, que provoca controvérsia apenas quando se considera o gosto pessoal de cada amante das borbulhas. Podemos ter champanhes rosés tanto produzidos com a adição de vinho tinto no processo de fabricação como pela maceração das uvas tintas Pinot Noir e Pinot Meunier. Esse ponto talvez seja o mais sensível de todos, pois temos grandes exemplares produzidos pelos dois métodos. Os mais comuns são os com adição de vinho tinto, pois o objetivo é manter a finesse, a elegância e a delicadeza do champanhe.

De maneira geral, são para consumo mais rápido, pois no caso de adição do vinho tinto, se ele for à base das uvas Pinot Noir e Pinot Meunier, temos uma baixa de acidez no blend final. Com isso temos um vinho com acidez menor e, assim, menos longevo. A acidez é um dos componentes responsáveis pela longevidade de qualquer vinho.

O outro estilo menos comum de produção de champanhe rosé é com a maceração de uvas tintas (sempre Pinot Noir e Pinot Meunier), processo que nasceu na década de 60 com a casa Laurent Perrier, que produz até hoje um dos mais espetaculares rosés borbulhantes do planeta.

Diante da questão sobre qual seria o método mais adequado para obtenção do rosé - maceração de uvas tintas ou adição de vinho tinto -, François Hautekeur, um dos nove enólogos que formam o comitê de degustação e que colaboraram na criação da Veuve Clicquot Rose, respondeu com pragmatismo: "na Veuve Clicquot somos assembleurs, ou seja, nosso negócio é fazer o blend final dos champanhes", deixando claro que em sua casa nunca acontece a maceração das uvas tintas, mas sim sempre se utiliza o método de assemblage.

O lançamento do novo produto da marca de champanhe que mais vende no Brasil pareceu a este colunista uma ótima oportunidade de mergulhar no glamour do rosa e das borbulhas e de degustar vários grandes espumantes rosés de uma vez só. E uso deliberadamente a palavra espumantes porque aos doze champanhes rosés juntou-se um espumante italiano rosé. Viver essa maratona de sabor é um privilégio para poucos que resultou numa análise dos destaques em todos os níveis de preço e requinte nos três grupos: brut, brut prestige e vintage (ou safrados).

No topo da pirâmide estão os rosés vintage. Da década de 90, as melhores safras foram 1995, 1996, 1998 e 1999, que geraram vinhos muito especiais e longevos e que hoje estão praticamente esgotadas. A melhor de todas as safras é a 1996. Dos rosés vintage degustados os destaques foram a Pol Roger Brut Rosé Extra Cuveé de Reserve 1998. Aromas de frutas vermelhas (cerejas), toques cítricos e um final delicioso. Um champanhe vivo, profundo e muito especial. Pode-se degustá-lo já, mas tem seguramente mais dez anos pela frente. A casa Pol Roger está entre as mais prestigiadas de toda a região, e seus champanhes são sempre destaque mundo afora.

O outro grande vinho degustado foi o Taittinger Comtes de Champagne Brut Rosé 1999. De cor salmão reluzente, no nariz é uma verdadeira maravilha, com muita fruta, como morango e cereja. Tem ainda toques minerais, com uma firme estrutura. Na boca é explosivo, elegante e intenso. Um rosé monumental. Talvez um dos melhores rosés já produzidos pela famosa casa Taittinger. É um sério rival do Comtes Rosé 1996, que é mais formal e menos pronto que seu irmão mais novo.

Dos rosé brut não safrados temos os exemplares mais fáceis de serem apreciados em dois grupos distintos. Os excepcionais rótulos produzidos em grandes quantidades e os outros produzidos por casas menores e em quantidades menos expressivas, que não deixam também de ser excepcionais.

O Veuve Clicquot Brut Rosé é muito especial, pois com seus 12% de Pinot Noir mostra muito equilíbrio. É guloso e agradável na boca. A sensação que se tem é de que é um vinho para beber a noite inteira. O Heidsieck Monopole Brut Rosé Top tem a cor mais clara. É carregado de fruta, presente e com um final marcante. Seu parente Piper Heidsieck Rosé Sauvage é mais intenso na cor e faz juz ao nome "selvagem". É mais rústico, porém mais inebriante e focado. Na boca é firme e muito estruturado.

O Duval Leroy Brut Rosé de Saignée é dos mais leves, tanto na cor quanto no corpo. Muito sutil e com um final intrigante. Essa casa é sem duvida uma das que mais evoluíram ultimamente, e esse rosé é prova disso.

Dos top brut não safrados e de preços mais aviltados, que fazem do champanhe rosé um produto realmente diferenciado, tivemos três monumentos. O primeiro é o consagrado Laurent Perrier Cuveé Rosé, precursor dos rosés produzidos pela maceração de uvas tintas e que até hoje têm um estilo único, desde a sua cor (mais intensa) até seus marcantes taninos. Um campeão quase absoluto quando alguém pretende degustar um champanhe com muito corpo, personalidade e intensidade.

O segundo destaque nessa categoria é o Egly-Oriet Rosé, produzido por uma pequena casa em Ambonnay, nas cercanias de Epernay. Sua cor é um salmão- claro, e seu perlage é finíssimo (bolhas muito pequenas, abundantes e velozes). Seus aromas são muito delicados, com marcantes toques de frutas, como o morango. Têm ainda no olfato toques florais e minerais. Na boca é pura finesse e nos lembra mesmo um bom Pinot Noir da Borgonha. Por ser lançamento, é talvez a mais grata surpresa de todo o painel. Sua qualidade é de um superpremium champanhe e o preço é muito próximo dos Rosés de mercado. O grande value for money de toda a degustação.

O último grande destaque do painel foi o sensacional Billercart-Salmon Brut Rosé. É, talvez, de todos os nonvintage, o mais impactante, pois alia força à finesse. O Billecart-Salmon apresenta maravilhosos toques minerais, complementados por frutas vermelhas. Na boca é um dos champanhes mais longos e com um delicioso retrogosto. Está, ao lado do Laurent Perrier citado acima, como o sonho de consumo dos amantes dos rosés, pórem cada um em seu estilo; o Laurent Perrier com mais força e presença, e o Billecart- Salmon com mais finesse e sutileza.

O único champanhe não francês do painel - logo não pode ser chamado de champanhe, mas tem mais status do que muitos champanhes - é o italiano Ferrari Rosé, produzido no norte da Itália, mais precisamente na região de Trento. Um espumante espetacular que, além de fazer sombra aos champanhes franceses, coloca em xeque a supremacia dos grandes Franciacortas Rosés de Maurizio Zannela (Ca' Del Bosco) e Matia Vezzola (Bellavista) como os mais especiais vinhos borbulhantes rosados da Itália.

O gostoso mesmo é saber que o mundo é muito melhor quando está cor-de-rosa. Saúde e vivam as borbulhas rosadas. (Por Luiz Gastão Bolonhez - Forbes Brasil)

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