quarta-feira, 11 de julho de 2007

Disputa Saborosa

No Piemonte, aos pés dos Alpes e perto da França, os Barberas, Dolcettos, Bardolinos, Freisas e alguns mais leves feitos com a uva Nebbiolo seriam vinhos 'di pranzo'

A Barbera disputa com a Sangiovese a primazia de ser a uva tinta mais plantada em toda a Itália. Ela se espalha pelo Norte do país, notadamente no Piemonte, onde nasceu, provavelmente na zona de Monferrato e onde dá os vinhos mais populares da região.

Os italianos costumam fazer uma distinção entre os vinhos 'di pranzo', os mais apropriados para as massas, risotos e outros pratos com os quais costumam abrir a refeição (primi) e vini d'arrosto, os de mais classe, mais corpo, reservados para as ocasiões especiais, para os grandes assados.

No Piemonte, uma região de muitos e grandes vinhos e de cozinha rica, excelente, no Noroeste da Itália, aos pés dos Alpes e perto da França, os Barberas, Dolcettos, Bardolinos, Freisas e alguns mais leves feitos com a uva Nebbiolo seriam vinhos 'di pranzo'. Já os grandes e mais nobres elaborados com a Nebbiolo, notadamente Barolo e Barbaresco seriam os vini d'arrosto.

Até algum tempo, essa divisão era bem nítida, na qualidade, no estilo e, principalmente, nos preços. Os Barberas eram vinhos leves, descompromissados, sempre com boa cor, pouco tanino e acidez gostosa, características que facilitam a acomodação com muitos pratos de várias categorias. Hoje, a situação está mais nebulosa, pois apareceram grandes Barberas envelhecidos no carvalho, que custam tanto ou mais que muitos Barolos e Barbarescos.

A idéia inicial era mostrar em duas colunas os tipos principais - com madeira e sem madeira - mas isso não deu muito certo. Assim, resolvi refazer os páreos e colocar juntos os que custam abaixo de R$ 80 (muitos dos quais com estágios em barricas ou outros recipientes de carvalho) e deixar para a próxima coluna os que ficam acima de R$ 100, mas não ultrapassam a barreira dos R 200. A degustação foi das melhores, deu muito prazer. Além dos quatro selecionados, é necessário salientar a qualidade também do Barbera d'Asti Il Monello 200, do grande produtor Braida, o precursor do Barbera 'barricato', um vinho gostoso (Expand, R$ 48) e do Barbera d'Asti Beni di Batasiolo Sabri 2004 (Expand, R$ 49). Dois vinhos ótimos, com preços atraentes.

BARBERA D’ASTI IL FIULOT PRUNOTTO 2005
ONDE ENCONTRAR Expand, tel.: 613-3333 e, a partir do dia 10, 3847-4747
PREÇO R$ 59
COTAÇÃO 88/100

A Prunotto é uma empresa tradicional do Piemonte, hoje controlada pela não menos tradicional Marchesi di Antinori, da Toscana. Vinhos bem feitos e confiáveis, como este Barbera alegre, com aroma não muito potente, mas muito gostoso, complexo, com algo de chocolate. Aroma ainda meio fechado, que abriu bastante depois de um certo tempo no copo. Algo de ameixas pretas. Na boca, redondo, agradável e macio. O tipo do vinho “doce” sedoso, apesar do final um pouco alcoólico. Já dá muito prazer, mas deve evoluir com um pouco mais de tempo no copo. Fácil de beber e de gostar. Frescor estimulante, que convida a continuar bebendo. Deixa na boca sensação agradável, de frutas. 13% de álcool.

CÁ DI PIAN LA SPINETTA 2001
ONDE ENCONTRAR Vinci, tel.: 6097-0000
PREÇO R$ 77
COTAÇÃO 89/100

A La Spinetta faz alguns dos melhores Barberas do Piemonte. Este é realmente muito bom e já tem alguns anos na garrafa. O tipo de vinho que precisa ser provado já, pois não tem nada a ganhar com o tempo. Apesar da idade, escurão, violáceo, sem sinais de envelhecimento. Aroma de vinho evoluído, com algo de chocolate e frutas escuras, talvez ameixas. Sente-se um pouco do álcool no aroma, que “pica” um pouco as mucosas das narinas. Na boca, gostoso do começo ao fim, apesar de um pouquinho alcoólico ao final. Redondo, gostoso e complexo na boca. Muita fruta bem madura e algo de chocolate. Deixa sensação gostosa. Concentrado, com bom corpo e acidez muito agradável. 13,5% de álcool.

BARBERA D’ASTI CAMP DU ROUSS COPPO 2004
ONDE ENCONTRAR Mistral, R. Rocha, 288, tel.: 3372-3400
PREÇO R$ 77,80
COTAÇÃO 89/100

A Coppo é outra vinícola que pode ser considerada especialista em Barberas, pois faz vários vinhos com essa uva, alguns excelentes e bem caros. Este é um tinto vivo, gostoso, que dá vontade de continuar bebendo. Escurão, violáceo, sem sinais de envelhecimento. Aroma ótimo, relativamente intenso. Muita fruta e algo floral. Na boca, redondo, encorpado, desses que enchem a boca. Ótima concentração de sabor e muita fruta madura, talvez geléia. Um vinho equilibrado, com tudo no lugar, redondo, sem arestas. Mais do que pronto para o consumo. Um exemplo de acidez estimulante. Um vinho complexo, com várias nuances, macio, quase sedoso, que deixa uma sensação de frescor na boca. 13% de álcool.

BARBERA D’ALBA S. ROSALIA MAURO SEBASTE 2005
ONDE ENCONTRAR Decanter, tel.: 3074 -5454.
PREÇO R$ 80
COTAÇÃO 88/100

Um vinho muito gostoso, marcado pelo estágio no carvalho. Fácil de beber e de gostar. Como os demais, cresceu muito com o almoço. Vinho bem jovem, porém pronto para o copo, macio e nada agressivo. Aroma agradável e que foi melhorando com o tempo no copo. Primeira impressão de tinto frutado, com um pouquinho de madeira e algo de baunilha ao fundo. Depois de um certo tempo, a baunilha foi crescendo, mas não dominou, deixando espaço para as frutas. Começou muito bem na boca. Concentrado, com bom corpo e “doce”, suave. Taninos macios, sem nada de amargor, que apareceram apenas no fim. Potente, quente e apenas um pouquinho alcoólico. 14% de álcool. (saul.galvão@grupoestado.com.br/OESP)

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