domingo, 29 de abril de 2007

No lugar das iguarias, pastel e sanduíches

MERCADÃO -Mezanino, um toque moderno (foto: Antonio Milena/AE)

Por Bruno Paes Manso e Humberto Maia Junior
(O Estado de S.Paulo - 29.04.07)


Por fora, o prédio em estilo eclético, projetado em 1933 pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo, é um marco imponente do passado de São Paulo. Mas as sólidas paredes do Mercado Municipal escondem um ambiente dinâmico, em pleno processo de transformação.

Os comerciantes tradicionais, que abasteceram com iguarias refinadas gerações de gourmets e donos de restaurantes, reclamam que perderam espaço. Agora, quem faz sucesso são os bares e restaurantes. Vendendo pastel de bacalhau e sanduíche de mortadela, passaram a atrair novos clientes e afastar os antigos.
“Com a queda dos lucros, vendedores de frutas, carne e peixe querem abandonar os negócios para abrir bares e restaurantes”, diz José Carlos Siqueira Lopes, presidente da Associação dos Permissionários do Mercado (Renome). “Isso acabaria com a diversidade do Mercadão.”

Pelo menos 20 permissionários querem trocar de ramo. A maioria prefere montar lanchonetes e restaurantes. Hoje já são 22 lanchonetes no Mercadão, entre os 290 boxes. Nos últimos dois anos, houve pelo menos 15 mudanças - na maioria, de vendedores de frutas que decidiram trocar de ramo. Surgiram docerias e até uma lotérica. “Cansei de jogar fruta fora”, diz Ivan Amaro, que, depois de 15 anos negociando frutas, espera autorização para montar uma pet shop.

As novas gerações de comerciantes têm tentado acompanhar a mudança no perfil dos clientes. É o que aconteceu com o permissionário Luiz Paulo Livitti, que cresceu no Mercadão. O avô, calabrês, começou a vender frutas ainda em 1933. A barraca passou para o pai, que chamou Luiz Paulo para ajudá-lo no trabalho. E assim se passaram mais de três décadas. Mas o negócio perdeu fôlego e ele decidiu abrir uma doceria e sorveteria no lugar. “A madame não espreme mais suco de laranja. Compra pronto. Os supermercados são concorrentes com promoções imbatíveis. Perdemos espaço.”

PÓLO TURÍSTICO

A nova fase começou a se consolidar depois de 2004, quando o Mercadão passou por uma ampla reforma, na administração Marta Suplicy (PT). O objetivo do projeto foi transformar o local em pólo turístico. A principal mudança ocorreu na estrutura interna, com a construção de um mezanino de 2 mil metros quadrados, onde funcionam seis restaurantes e duas lanchonetes. A reforma foi um sucesso de público e atraiu novos clientes. Houve dias em que mais de 100 mil pessoas passaram pelo local.

Mas o sucesso beneficiou principalmente vendedores de comida pronta. “Uma lanchonete rende hoje pelo menos dez vezes mais que uma barraca”, compara Nivaldo Goiano, gerente da Geração Saúde, que vende frutas, e de duas lanchonetes Tigrão. Na média, segundo os permissionários, o faturamento das bancas caiu 15%.

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