Por Fernando Olivan
Eu devo ser um mau paulistano. A maioria que vive em São Paulo faz questão de enfrentar trânsito e filas a perder de vista para freqüentar lugares da ¿moda¿. Querem pagar caro para serem vistos nos points bacanas da cidade, mesmo que isso não signifique serviços e preços de qualidade.
Mas a diversidade desta metrópole proporciona boas surpresas, até para os mais chatos como eu. Como procurar qualidade fora do sofisticado? Como ser modesto e ao mesmo tempo bem feito? Empreendedores sucedidos encontram soluções simples para seus negócios.
Há 12 anos, o Bar do Magrão é um dos raros casos de sucesso na cidade, afinal, de cada 100 bares criados no Brasil, apenas três sobrevivem mais de dez anos.
O sonho de seguir os passos do pai, que tinha um botequim em Santos ao lado da mercearia do ¿Dondinho¿, pai do Pelé, fez Luiz Sampaio ¿Magrão¿ abrir, em 1995, seu bar no mesmo local onde, aliás, tomou o seu primeiro porre quando jovem (pinga com soda, popularmente conhecido como ¿Rodão¿) e onde é atualmente seu famoso boteco no bairro do Ipiranga.
De início só eram servidos três tipos de petiscos e de cervejas. Com o tempo, outros pratos foram incorporados, inclusive a porção de calabresa acebolada, até hoje uma das mais pedidas, na época feita em uma pequena chapa. Aos sábados, a feijoada por encomenda era feita em casa e trazida de carro dentro de um panelão!
Em 2000, prevendo o sucesso que as massas caseiras de Dona Maria Aparecida, sua sogra, faria com os fregueses, Magrão abriu ao lado de seu bar uma rotisserie. Sem estrutura, até talheres e pratos eram trazidos de sua casa. Aos poucos, e principalmente graças aos sucessivos pedidos dos clientes em ¿coloca uma mesa pra gente¿, ¿vai ter lasanha?¿, o lugar se transformou hoje em uma aconchegante e irresistível cantina. Além de tudo, possui uma cozinha democrática. Qualquer novo petisco ou prato ¿bota para o freguês experimentar¿. Aprovado, entra no cardápio.
Superadas as dificuldades iniciais, era preciso ter o seu próprio estilo, mas nada foi intencional. No Bar, por exemplo, a exótica decoração de badulaques e outros objetos antigos espalhados nos quatro cantos do ambiente é fruto das doações dos freqüentadores. Para descobrir e identificar todos os enfeites do lugar, no mínimo, você precisa de um mês e, claro, muitas cervejas. É um ¿antiquário etílico¿, eu diria.
O Bar do Magrão é conhecido por suas manias. Durante muito tempo, o dono praticou um estranho ritual: por volta da meia-noite, ao som de ¿cantos gregorianos¿, tocava com vontade um sino para avisar aos fregueses que o bar estava encerrando suas atividades do dia.
Já alguns freqüentadores batem literalmente o cartão no estabelecimento, em um relógio de marcar ponto localizado logo na entrada do bar.
Apaixonado por música, especialmente blues, jazz e rock, Magrão sempre deu espaço para bons músicos, muitos freqüentadores do local. Eles apresentam o que sabem fazer de melhor, seja no pequeno palco localizado na parte elevada ou nas mesas do bar mesmo, uma experiência por vezes interativa.
A diversidade do público que freqüenta também é outra característica marcante: artistas, advogados, executivos, jornalistas, médicos, esportistas, estilistas, cineastas, políticos, estudantes, músicos, famílias, entre outros.
Encontros e desencontros aconteceram neste bar, cuja quantidade de histórias podem render um livro. Amizades, inimizades, fechamento de negócios, namoros e até casamentos ocorreram. Além de outros assuntos que só quem freqüenta o lugar poderia entender...
Excelente cozinha, cerveja gelada, boa música e simplicidade. Pensando bem, depois de tudo isso, até que sou um bom paulistano.
segunda-feira, 23 de abril de 2007
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