terça-feira, 6 de novembro de 2007

Quem lava as mãos?

Um especialista francês em doenças contagiosas avalia a higiene no banheiro – e confirma o que se temia

A higiene é um tema delicado na França. Um estudo recente confirmou que apenas metade da população do país lava as mãos depois de usar o banheiro. O hábito, ou melhor, a falta dele, é o assunto do livro On s'en Lave les Mains (na tradução literal, Lavam-se as Mãos), do médico Frédéric Saldmann. Especialista em higiene alimentar, cardiologista e diretor de uma revista sobre nutrição, Saldmann já havia espalhado pânico com o best-seller Os Novos Riscos Alimentares (1997). Agora, volta à carga revelando o mundo de doenças que os olhos não vêem, mas o microscópio enxerga. A maioria poderia ser evitada com água, sabão e toalhas de papel.

VERGONHA
Quando alguém está de olho, apenas 9% dos franceses saem do banheiro sem lavar as mãos. "No Brasil é igual", diz o autor da pesquisa

Entre dezembro de 2006 e janeiro de 2007, o "caçador de bactérias" francês fez dois estudos para medir o índice de infecção por germes em pessoas que apertaram a mão de alguém que não tivesse lavado suas mãos depois de ter ido ao banheiro. A primeira experiência mostrou que 11 entre 15 pessoas (ou 73%) tiveram as mãos infectadas. Dez pessoas pegaram a bactéria fecal Escherichia coli. Na outra, a contaminação foi pela Tatumella ptyseos. No segundo teste, nove das 18 pessoas testadas (50%) tinham em suas mãos diferentes germes fecais. O risco à saúde já seria grave se o estudo parasse por aí. Mas o que foi constatado a seguir é bem pior.

Duas horas depois do apertar de mãos, foram feitas também análises na boca de cada um dos participantes da experiência. Nesse intervalo, foram oferecidos café e biscoitos. Todos tocaram a boca com as mãos, seja para comer os biscoitos, disfarçar um bocejo, proteger uma tosse ou um espirro. No total, sete pessoas foram contaminadas, na boca, por germes fecais.

As mãos são vetores privilegiados de transmissão de germes originários das vias respiratórias e do tubo digestivo (o que inclui cólera, estafilococo e salmonela), capazes de provocar diarréias graves ou úlceras gástricas. Para evitar tudo isso, não basta lavar bem as mãos com água e sabão. É preciso secá-las. Aí surge outro problema.

As toalhas coletivas e os secadores de ar quente comuns em banheiros coletivos também estão condenados. Um estudo revelou que o número de germes presentes na pele de pessoas que se secaram com aparelhos de ar quente é superior à quantidade que havia antes da lavagem. No grupo que secou as mãos no pano do distribuidor rolante, havia, em média, 137 germes antes da lavagem e 47 depois da secagem. No grupo que usou o sistema de ar quente foram registrados 127 germes antes da lavagem e 206 depois da secagem.

Ao que parece, a falta de higiene é um hábito solitário. "Os mesmos testes que revelaram que 50% das pessoas não lavam as mãos na toalete mostram que o índice cai para 9% se colocarmos alguém no banheiro. As pessoas têm vergonha de não lavar as mãos se há alguém olhando", disse o médico a ÉPOCA.

Engana-se quem acha que o alerta de Saldmann vale apenas para franceses desleixados. "Vou seguidamente ao Brasil, país que adoro. E tudo que digo para a França é 100% verdadeiro para o Brasil. Os problemas são os mesmos, e ainda agravados pelo calor e pela umidade." Da próxima vez, já sabe...
(Fernando Eichenberg, de Paris/revista Época)

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