Clássicos são assim: parecem ter existido desde sempre. Mas, naturalmente, começaram sua presença no mundo em algum momento. É o caso do drinque mais caracteristicamente brasileiro. Dizem que a caipirinha surgiu no interior de São Paulo – daí, seu nome. Seria uma variação de uma receita popular para a gripe, à base de limão, alho e mel. “A versão mais vigorosa aboliu os dois últimos, adotando cachaça e um pouco de açúcar para cortar a acidez do limão”, assegura Maria Lúcia Uchôa, autora de Caipirinha – O drinque popular brasileiro (Casa da Palavra).
Sua presença já era notável ao fim da primeira metade do século passado, quando, em 1945, o bom bebedor e embaixador brasileiro escreveu seu impagável – e agora recém-editado – Drinkologia dos estrangeiros, um compêndio de artigos sobre drinques pátrios e recém-chegados pelas mãos de estrangeiros imigrantes e egressos da Europa pós-guerra. É a caipirinha, naturalmente, herdeira direta e dileta das batidas, ou a mais famosa delas. “Batida, em brasileiro, tem já um significado especial. Não é, como se poderia supor, qualquer aperitivo preparado em batedeira”, escreveu ele, cristalizando uma fórmula antiga, já abandonada pelo gosto popular: “Para um cálice de Paraty (cachaça), um quarto de suco de limão, uma colher, das de chá, da clara fina do ovo para ligar, bastante assucar (sic), bater com gelo. Em geral, a borda do cálice é recoberta com assucar, o que se consegue molhando-a ligeiramente com um pano úmido e invertendo-a sobre um assucareiro. Na opinião de muitos, o assucar, que adere à borda do cálice por esse processo, dá um aspecto convidativo à bebida”.
A fórmula, sabemos, simplificou-se bastante: basta uma boa cachaça, limão, açúcar e gelo. “Seus ingredientes fazem com que funcione como adstringente, quando associada a pratos mais pesados como feijoada e churrasco”, diz Maria Lucia Gomensoro, no seu Pequeno dicionário de gastronomia.
A glorificação da bebida sob a forma de caipirinha recebeu elogios de outro ilustre pesquisador de nossos hábitos de copo e mesa. “A história da ascensão social da batida dentro do que (...) Maurício Nabuco chamaria drinkologia brasileira é uma história de legítimo enobrecimento de um produto vindo das próprias raízes do Brasil. E que, enobrecendo-se, só faz concorrer para o engrandecimento da cultura brasileira”, discorreu Gilberto Freyre.J
(Jornal do Commercio-PE/Bruno Albertim)
sexta-feira, 6 de março de 2009
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