terça-feira, 17 de março de 2009

Aberta a 'temporada' de consumo de peixe

O período da Quaresma, quando o peixe entra em evidência no mercado, é uma boa oportunidade para criar o hábito de incluí-lo nas refeições. Os nutricionistas recomendam que se leve o alimento para a mesa duas vezes por semana nas formas cozida ou assada. Mas escolher o produto nem sempre é tarefa fácil. Peixe congelado ou fresco? De rio ou de mar? De escama ou de couro? Nativo ou de cativeiro?

Muitas vezes, a diferença está no sabor e na forma de preparo, explica o engenheiro de pesca da Emater, Luiz Eduardo Guimarães de Sá Barreto, o Lula. Ele explica, por exemplo, que o gosto de terra que muitos sentem ao consumir peixes de rio vem de uma substância presente nas chamadas algas filamentosas que existem nesses ambientes. O sabor característico é conhecido como ''off flavor''.

''Mesmo os peixes que não comem essas algas trazem o gosto, que entra na carne quando eles respiram. Peixes de cultivo (cativeiro) às vezes apresentam 'off flavor', já que as algas filamentosas podem estar presentes nas represas também'', esclarece Lula. Ele diz que o gosto acentuado pode desaparecer se o peixe passar por uma depuração, que consiste em deixar o animal vivo em um tanque com água corrente durante vários dias.

''O peixe nativo não tem como passar pelo processo, pois geralmente é tirado da água já morto. Os de cultivo são tirados vivos e transportados em caixas até a indústria, onde passam pelos tanques de depuração até irem para o abate'', explica o engenheiro.

O fato de os peixes de cativeiro só comerem ração não tem influência sobre o sabor ou a qualidade da carne, segundo Lula. ''Hoje, 90% da tilápia consumida no Brasil se alimenta de ração. E não se vê diferença na carne'', pondera. Ele argumenta que a ração de peixe tem como base a soja, que é benéfica para a saúde humana.

Conforme o engenheiro, as diferenças entre peixes de escama e couro estão no aspecto visual e na forma de limpá-lo e prepará-lo. ''As escamas têm que ser retiradas para o preparo, mas se o peixe for grelhado pode deixar. Já o couro não precisa retirar, só lavar. Os de couro são bastante usados para fazer moqueca'', observa.

Flávia, nutricionista: ‘‘Pessoas que mantêm consumo regular de peixe costumam ter menos doenças como Parkinson, Alzheimer e câncer’’

Entre os peixes de escamas mais conhecidos na Bacia do Paranapanema estão pacu, tilápia, curvina, piauçu, piau-três-pintas e piracanjuba. Na lista dos de couro entram pintado, cachara, jundiá, mandiuva, mandi, barbado, entre outros.

Nos supermercados, porém, é mais comum encontrar peixe de mar, com destaque para merluza, salmão, linguado, dourado (esse tem de mar e de rio) e cação. Sobre este último, uma curiosidade. ''É um tubarão, que ainda não cresceu, existente em todo o litoral brasileiro'', diz Lula.

Para o engenheiro, a diferença entre os peixes de água salgada e de água doce é só uma questão de paladar. ''Eu, que fui criado no litoral, em geral prefiro peixe de mar. No entanto, um dos melhores peixes que já experimentei na vida foi um pintado, de água doce'', observa.

Outra característica das carnes das diferentes espécies está na coloração. Existem as carnes brancas (tilápia, linguado, merluza, pescada, curvina), as vermelhas (bagre-africano, atum, pargo) e as salmonadas (salmão, matrinxã). ''Em geral, as salmonadas são as que mais atraem o consumidor'', observa Lula. As mais fáceis de encontrar no mercado, porém, são as brancas.

Entre peixe fresco e congelado, o melhor é ficar com a primeira opção. O representante da Emater ensina que é preciso observar: se o ambiente está refrigerado de forma adequada, se os olhos do peixe têm brilho, se as brânquias (ou guelras) têm cor vermelho vivo, se não há sinal de ferida e se a musculatura está firme.

''Quando você tocar no peixe, a musculatura tem que voltar de imediato. Se tocar e afundar, ele não está bom'', informa. No caso dos congelados, o consumidor deve optar pelos produtos embaladados que trazem data de validade.

  ‘‘O pei­xe é uma adi­ção ma­ra­vi­lho­sa a qual­quer die­ta sau­dá­vel. Ge­ral­men­te o ­teor de gor­du­ra é bai­xo, fa­zen­do de­le uma óti­ma op­ção de pro­teí­na. A gor­du­ra que ele con­tém é pra­ti­ca­men­te uma pro­mes­sa de cu­ra e pre­ven­ção de ­doenças’’, diz a nu­tri­cio­nis­ta Flá­via Au­gus­ta Tu­ti­ni Pa­ga­no.

Teor de gordura baixo e boa fonte de proteína
Do pon­to de vis­ta nu­tri­cio­nal, os ­mais in­di­ca­dos são os cha­ma­dos pei­xes ‘‘­gordos’’, por tra­ze­rem ôme­ga 3, que são áci­dos gor­du­ro­sos po­liin­sa­tu­ra­dos (gor­du­ras ­boas). ‘‘Es­tu­dos mos­tram que o ôme­ga 3 tem efei­to pro­te­tor pa­ra a saú­de do co­ra­ção e é im­por­tan­te pa­ra a fun­ção e o de­sen­vol­vi­men­to do ­cérebro’’, afir­ma a nu­tri­cio­nis­ta.

O ôme­ga 3 po­de ser en­con­tra­do em pei­xes das ­águas ­frias e pro­fun­das do ocea­no co­mo sal­mão, ­atum, ba­ca­lhau, aren­que, tru­ta e sar­di­nha. Po­rém, a ­maior con­cen­tra­ção des­sas ‘‘gor­du­ras ­boas’’ es­tá em pei­xes na­ti­vos. ‘‘Sa­be­mos que os pei­xes de ca­ti­vei­ros, fá­ceis de se­rem en­con­tra­dos nos su­per­mer­ca­dos, têm bai­xo ín­di­ce de ôme­ga 3 por­que co­mem ra­ção e não os plânc­tons que es­tão nas ­águas ­mais pro­fun­das e ­frias do ocea­no, de on­de vem o ôme­ga 3’’, ex­pli­ca Flá­via.

Se­gun­do a nu­tri­cio­nis­ta, pes­qui­sas re­cen­tes con­fir­mam os be­ne­fí­cios da in­ges­tão de pei­xe tan­to pa­ra ho­mens quan­to pa­ra mu­lhe­res. Es­tu­dos li­ga­ram os áci­dos ôme­ga 3 à di­mi­nui­ção do ris­co de in­far­to e des­co­bri­ram que pes­soas ‘‘de ­mais ­idade’’ que co­mem uma por­ção de pei­xe ‘‘­gordo’’ por se­ma­na têm 44% me­nos chan­ce de so­frer um in­far­to.

Quan­to à for­ma de pre­pa­ro, Flá­via re­co­men­da as re­cei­tas as­sa­das ou em mo­lho. ‘‘Nun­ca pei­xe fri­to, por­que quan­do fri­ta­mos acres­cen­ta­mos gor­du­ra sa­tu­ra­da (gor­du­ra ­ruim)’’, diz. Ela re­for­ça que o ­ideal é in­cluir o ali­men­to na die­ta ­duas ve­zes por se­ma­na. ‘‘Pes­soas que man­têm ali­men­ta­ção ba­lan­cea­da e con­su­mo re­gu­lar de pei­xe cos­tu­mam ter me­nos doen­ças reu­ma­to­ló­gi­cas, car­día­cas e de­ge­ne­ra­ti­vas, co­mo Par­kin­son, Alz­hei­mer e ­câncer’’, des­ta­ca. (G.M.)

Gisele Mendonça (Folha de Londrina-PR)

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