Consumo da bebida cresce 23%, segundo o IBGE, e público seleto chega a pagar R$ 230 por importada
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cerveja é um dos produtos cujo consumo mais cresce no País. A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), divulgada no ano passado, revela que alimentos como arroz e feijão perderam espaço na mesa do brasileiro, mas que a ingestão de cerveja cresceu 23%. A comparação é com a POF anterior, realizada em 2003.
A estimativa do sindicato da indústria cervejeira (Sindicerv) é que o consumo da bebida no Brasil seja de 64 litros per capita por ano, ainda bem distante dos 84 litros consumidos pelos norte-americados e dos 150 litros bebidos pelos alemães. ''Conforme a renda vai melhorando, a população brasileira passa a gastar mais com produtos que estão fora da cesta básica'' justifica Gustavo Segantini, gerente de Marketing da Ambev no Paraná. Maior fabricante no Brasil, a empresa diz que suas vendas cresceram 6,7% somente em 2010.
Dona das marcas Skol, Brahma e Antartica, a fábrica vendeu 3 bilhões de litros de cerveja somente no primeiro trimestre deste ano. Já a comercialização de suas bebidas não alcoólicas foi de apenas um terço deste volume: 1 bilhão de litros.
O crescimento do mercado das cervejas industriais também vem abrindo espaço para as especiais. Segundo o Sindicerv, as cervejas especiais representavam apenas 2% do mercado em 2004. E no ano passado haviam abocanhado 5% das vendas totais. ''O aumento da renda dos brasileiros e a situação cambial (dólar baixo), que torna os produtos importados mais baratos, são os principais fatores que levaram ao crescimento dessas bebidas'', afirma Rodolfo Alves, sócio-fundador da Mr.Beer, que tem 19 lojas atualmente no País - duas delas em Londrina.
Mas o desafio para quem atua neste segmento é maior. Além de mais caras - podendo chegar a R$ 230 a garrafa -, as cervejas especiais precisam romper algumas barreiras comportamentais no País. Cerveja com chocolate, por exemplo, é uma combinação que nem passa pela cabeça da maioria dos consumidores brasileiros. Mas boa parte das especiais disponíveis no mercado são indicadas para acompanhar um leque variado de comidas, que vai muito além do petisco de bar e do churrasco.
Alves admite que as cervejas especiais ainda estão restritas a um tipo muito peculiar de consumidores. ''Normalmente são gourmets, pessoas que estão acostumadas à gastronomia sofisticada, que compram azeites caros e pistaches iranianos'', exemplifica.
Para ele, não é o preço o principal fator que mantém o grande público distante das cervejas especiais. ''É uma questão mais cultural. O brasileiro está acostumado a tomar uma bebida mais leve e em grande quantidade'', afirma.
Bebida artesanal ganha espaço
Curitiba - Não é apenas a indústria que comemora o aumento do consumo. O mercado de cervejas especiais também encontra por aqui cada vez mais apreciadores. Em Curitiba, o consumidor pode até montar sua própria ''fábrica''.
Há pouco mais de um ano, o empresário Douglas Salvador criou o Clube do Malte, espaço que vende mais de 150 rótulos de cervejas especiais e equipamentos e insumos para quem deseja entrar no mundo do homebrewing - passatempo de fazer em casa a sua própria bebida (a chamada cerveja de panela). A proposta do clube foi tão bem aceita, que o proprietário está expandindo a marca em franquias para outras cidades e começará a vender os produtos pela internet. ''É um mercado que está crescendo em velocidade grande'', comemora.
Salvador conta que o projeto desse clube tem três anos e a ideia foi criar um ''varejo didático'' em que o consumidor é educado, estabelecendo assim uma ''cultura cervejeira'' - costume muito forte em países como Alemanha, Bélgica e Tchecoslovaquia. ''Aqui é cerveja especial. Lá é cerveja do dia a dia'', comenta o empresário.
Mas o que coloca a cerveja na categoria especial? Douglas Salvador explica que enquanto a maioria das cervejas industriais vendidas em grande volume é feita a partir de cereal e recebe conservantes químicos, a bebida especial conserva a pureza dos ingredientes e pode ser feita usando ampla variedade de lúpulo, malte e fermento. ''Ela tem muito mais sabor e aroma'', constata. Os sabores podem variar entre herbais, florais, frutados e torrados.
Outra coisa diferencia as bebidas industriais das especiais: o preço. Não é todo mundo que vai conseguir animar um churrasco em família regado com as bebidas selecionadas. A maioria das garrafas têm preço entre R$ 5,00 e R$ 30,00. Mas tem cerveja custando entre R$ 70,00 e R$ 80,00. Ingressar no homebrewing também exige um investimento inicial. Um curso básico custa em média R$ 300,00 e os equipamentos necessários somam R$ 1 mil.
Salvador diz que o seu restaurante/bar é frequentado por jovens, adultos e idosos. ''São pessoas de bom poder de consumo, abertas a experimentar coisas diferenciadas'', afirma.
O empresário lembra que a proposta do Clube do Malte também é valorizar a produção local. Tanto que comercializa bebidas produzidos por cervejeiros caseiros da região de Curitiba e até de outros Estados. Também serve chope produzido em Campo Largo e Pinhais, cidades da Região Metropolitana de Curitiba. Ele observa que o desenvolvimento das cervejas artesanais no Brasil está reproduzindo o cenário norte-americano, ''onde cada região acaba tendo seu próprio mundo cervejeiro''.
Serviço: Clube do Malte fica na Rua Desembargador Motta, 2.200, em Curitiba. Outras informações podem ser obtidas pelo (41) 3014-9313.
Variedades frisante e defumada
O mundo da cerveja é tão rico quanto o do vinho. A garantia é do empresário Rodolfo Alves, proprietário da Mr. Beer. Prova disso, segundo ele, é a cerveja frisante Kriek Boom, produzida na Bélgica. Fabricada sem levedura, ela é fermentada a partir de microorganismos presentes no ambiente. ''Chamamos de cerveja viva, porque ela fermenta desde o início do processo de produção até quando é colocada na taça'', explica. Isso mesmo, a Kriek Boom não é servida em copo. Por causa desse processo de fermentação, ela é tampada com rolha. ''Uma tampa comum não suportaria'', justifica o especialista.
Entre os ingredientes desta bebida belga, está a cereja. Por isso, em quase tudo, menos no gosto, ela é parecida com uma champagne rose. Nas degustações das quais participa, Alves costuma servi-la com bolo de chocolate. Uma garrafa de 600 ml custa cerca de R$ 40.
Entre as cervejas especiais, existe também as defumadas, a exemplo da Rauchbier, fabricada na Alemanha. Na verdade, a cevada seca é que passa por um processo de defumação. ''É comum a pessoa abrir a Rauchbier e dizer que tem cheiro de bacon'', conta. Mas o empresário garante que é só o cheiro. ''Esta cerveja acompanha bem um bom charuto ou uma feijoada'', indica. O preço gira em torno de R$ 35 (600 ml).
Outra cerveja muito peculiar é a Deus, fabricada na Bélgica, mas envazada na região de Champagne, na França. É uma das mais caras do mundo, cerca de R$ 230 a garrafa. O preço, segundo Alves, se justifica por seu demorado processo de fabricação. ''Ela passa pelos mesmos processos da champagne. Depois de envazada, leva cerca de um ano para estar própria ao consumo. Todos os dias, durante esse período, sua garrafa tem de ser virada como um bom vinho.''
De acordo com o dono da Mr. Beer, o Brasil ainda está dando os primeiros passos na produção de cervejas especiais. A nacional mais antiga é a Colorado, fabricada em Ribeirão Preto (SP), que foi lançada há menos de uma década. Outra bem apreciada pelos amantes da bebida é a Bamberg, feita em Sorocaba. ''Ambas são muito boas'', garante. (Fonte: Folha de Londrina - PR)
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
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