sexta-feira, 21 de novembro de 2008

"Se o brasileiro quiser vinho francês barato, terá de ir à França"

Dhalluin, do Mouton Rothschild, em jantar no Morumbi

Depois de Aubert de Villaine, do Domaine de la Romanée Conti, que se reuniu com banqueiros, empresários e apreciadores de vinhos em SP no mês passado, o enólogo chefe e diretor da Mouton Rothschild, Philippe Dhalluin, passou pela cidade para um dia de degustações. Ele se encontrou com 30 enófilos e comandou um jantar -a R$ 480 cada um dos 20 convites- no restaurante Eau, no Morumbi. Na carta da noite, quatro vinhos: do Château d'Armailhac Grand Cru Classé, de R$ 245, ao Château Mouton Rothschild, de 1990, a chamada "safra mágica" -que não sai por menos de R$ 4.000 a garrafa, com rótulo assinado por Francis Bacon. No menu, bacalhau ao creme de trufas, escalope de foie gras com figo e banana caramelizada, carré de cordeiro e biscoitinhos de amêndoas e uvas brancas. Antes do jantar, o enólogo falou à coluna:

FOLHA - Em visita a SP, Pierre Lurton, diretor do Château Cheval Blanc e do Château D'Yquem, disse que poderá faltar champanhe no mundo, já que a produção é limitada e o consumo explodiu em países como China, Rússia e Índia. O mesmo pode acontecer com o vinho?
PHILIPPE DHALLUIN - É sempre possível. Mas quando a demanda sobe, o que fazemos? Subimos o preço. É isso: já que não é possível aumentar a produção, subiremos o preço, claro.
FOLHA - Isso não tornará o consumo mais restrito e elitista?
DHALLUIN - Sim, o consumo é cada vez mais restrito e elitista. C'est la vie [É a vida].

FOLHA - O Brasil é um bom mercado para os vinhos da Mouton? DHALLUIN - É o primeiro mercado da Mouton na América Latina, até porque é o país mais populoso.

FOLHA - Mas a população brasileira em geral não compra vinho.
DHALLUIN - É claro que não. Mas há uma pequena população da elite que pode consumir e que compra. O vinho é um produto de luxo e o consumidor brasileiro é do tipo que se interessa cada vez mais. O problema do Brasil são os impostos. Aqui, o vinho francês tem... tem... [pede ajuda a um importador que está no jantar] Quanto de imposto? É, é isso: 116% até chegar ao consumidor. Um vinho que custa 30 na França, eu vejo aqui por mais de 100. Enfim, se o brasileiro quiser vinho francês barato, terá de ir à França.

FOLHA - O que o senhor acha do crítico Robert Parker, que distribui notas aos vinhos e é acusado de criar uma ditadura do gosto?
DHALLUIN - Robert Parker é a referência mundial em vinhos, como o Guide Michelin, de restaurantes, na França. É um guia. Se você está em SP, por exemplo, num hotel de prestígio ou com amigos numa boa casa, e quer beber um vinho de alto nível, pode recorrer ao Robert Parker. Encontro com ele três, quatro vezes por ano, quando ele visita o château. Ele nos deu a nota máxima, distinguiu o Mouton de todos os outros vinhos. O que posso dizer? Ele não obriga ninguém a escolher este ou aquele vinho.

FOLHA - Muitos no Brasil dizem que aqui se consome vinho mais por exibicionismo que por prazer. O que o senhor acha?
DHALLUIN - É o que eu disse: nossos vinhos são um produto de luxo. É a mesma coisa que se perguntar por que as pessoas usam óculos Yves Saint Laurent, sapatos Prada, ou um relógio de ouro para ver as horas... A resposta é: você ama seus sapatos Prada e pronto.
(Mônica Bergamo/Folha de S.Paulo)

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