A turbulência financeira chega aos botecos entre novembro e fevereiro do ano que vem. É nesse período que a AmBev, maior fabricante nacional, reajustará o preço das cervejas, que este ano deve ter impacto também da desvalorização do real, que desde 1º de agosto acumula perdas de cerca de 50%.
Dentre todos os reflexos da crise financeira internacional, o que mais afeta as cervejarias é a alta do dólar, mais até que a restrição do crédito. Muitos insumos utilizados na fabricação da bebida são importados e, portanto, cotados na moeda americana.
Mas o mais importante deles, a cevada, matéria-prima do malte, pode continuar com custos estáveis. Segundo o especialista em cevada e matérias-primas para cerveja, Euclydes Minalla, da Embrapa Passo Fundo (RS), a safra de cevada na Europa é a maior dos últimos tempos, o que faz o valor da tonelada cair. "No fim das contas, a alta do dólar empata com a baixa da cevada e o preço continua igual." Mas ele lembra que as empresas têm outros custos em dólar que estão subindo, como o de rótulos.
"Tudo isso gera uma pressão de custos, mas o maior problema das empresas, principalmente para as que se reportam à sede no exterior, é manter a rentabilidade", diz Adalberto Viviani, da consultoria Concept, especializada no mercado de bebidas. As matrizes, segundo ele, querem que as divisões brasileiras entreguem o resultado prometido no início do ano. No entanto, a desvalorização da moeda corrói os valores. "A saída, então, é aumentar preços ou o volume de vendas." Fabio Anderaos de Araújo, analista da Itaú Corretora, concorda. "As cervejarias estão perdendo margem de lucro", afirma. "Além disso, não se sabe como serão as vendas no verão, com a lei seca. Apesar da fiscalização parecer estar arrefecendo, ainda pode ser um risco para as vendas."
No caso da AmBev, que se reporta à InBev na Bélgica, diante dessa situação, a saída é mesmo o aumento de preços, uma vez que a empresa detém mais de 60% do mercado nacional, fatia difícil de aumentar em um mercado estável como o de cervejas atualmente. "Estamos programando um aumento para o verão, entre novembro e fevereiro", diz Michael Findlay, diretor de relações com os investidores da AmBev. Ele nega que isso seja efeito da alta do dólar na empresa. "O impacto da desvalorização do real para nós, no curto prazo, é insignificante", diz ele, comentando a observação feita pela analista de mercado da corretora Morningstar, Ann Gilpin. Segundo ela, AmBev tem dívidas em dólar que somam US$ 2,3 bilhões. "Temos essa dívida mas ela está protegida por operações de hedge a um valor que acertamos no início do ano. Já sei quanto pagar. Não há riscos", diz Findlay. Ele, porém, acrescenta que o aumento previsto para o verão deve ter percentual equivalente à inflação do período na data.
Outra que, segundo os analistas, deve apelar para aumentos é Femsa, que se reporta à sua sede no México. "Ou ela sobe preços ou aumenta sua escala", diz Viviane. A empresa, entretanto, não comentou o assunto.
Em situação melhor estão as cervejarias nacionais, como a Schincariol e a Petrópolis, uma vez que a maioria de sua operação é feita em real. "Todo nosso endividamento é preponderantemente feito em reais, utilizando linhas de crédito de longo prazo via BNDES", disse a empresa em comunicado oficial. Sobre a possibilidade de aumentos de preços ao varejo, a Schincariol informou que ainda está fazendo uma "análise sobre os impactos da alta do dólar" em suas atividades. Mas, segundo a companhia, "apesar da alta da moeda, os preços dos insumos estão com tendência de baixa."
Entretanto, uma surpresa fiscal pode impactar as cervejarias também. Segundo a SLW Corretora, a mudança na forma de cobrança do PIS e da Cofins para empresas de bebidas é uma incógnita. "Não se sabe se a coisa vai ser boa ou ruim. E a definição sobre isso deve acontecer só no fim do ano ou no início de 2009", diz um analista. (Lílian Cunha - Valor Econômico)
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
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